PUBLICIDADE

Governo sela acordo e São Paulo vai aumentar vazão do Jaguari

Pacto entre Rio e SP visa a assegurar abastecimento. Vazão, que hoje está em 10 metros cúbicos por segundo, subirá para 43 m3/s

Foto do author André Borges
Por André Borges e Nivaldo Souza
Atualização:

Atualizada às 23h37

PUBLICIDADE

BRASÍLIA - Após trocarem acusações na disputa pela água da Bacia do Rio Paraíba do Sul, os governos federal, de São Paulo e do Rio chegaram a um acordo sobre os volumes que serão liberados nos mananciais que abastecem 15 milhões de pessoas. Entre as medidas, está o aumento de 10 mil para 43 mil litros por segundo na vazão que a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) libera na usina hidrelétrica do Rio Jaguari, em São José dos Campos, para o Rio Paraíba já a partir de amanhã - valor superior aos 30 mil litros que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) havia determinado no início do mês.

No dia 6, a Cesp decidiu, unilateralmente, não cumprir a determinação do ONS e passou a liberar apenas um terço do volume exigido. A decisão, inédita no setor elétrico, foi amparada pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), controlado pelo governo paulista. Ao órgão federal, a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que reduziu a vazão no Rio Jaguari para evitar desabastecimento em cidades paulistas e argumentou que a lei garante o uso prioritário da água para o consumo humano.

Rio Jaguari terá vazão aumentada a partir de quarta-feira Foto: Reginaldo Pupo/Estadão

A decisão foi duramente criticada pelo governo do Rio, que viu “quebra do pacto federativo” no ato. Além de abastecer cerca de 10 milhões de pessoas na região metropolitana fluminense, a água do Paraíba do Sul alimenta a produção de energia elétrica da Light (concessionária do Rio). O ONS, que regula o setor elétrico, disse que a decisão da Cesp causaria o “esvaziamento” dos demais reservatórios da bacia, que enfrenta uma das piores estiagens da história, e provocaria “o colapso do abastecimento” de cidades paulistas, mineiras e fluminenses.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) notificou a Cesp, que poderia ser multada em 2% do faturamento, e o governo federal ameaçou até com intervenção. Já a Agência Nacional das Águas (ANA) cobrou explicações do governo paulista e solicitou ao ONS que exigisse da Cesp uma compensação, liberando mais água em sua usina na Represa Paraibuna, que também alimenta o Paraíba do Sul. Ela é a maior da bacia, mas está com o pior nível: 12,48% da capacidade. O Jaguari estava nesta segunda com 37,73%, o melhor índice do sistema. Por causa disso, o ONS queria preservar Paraibuna, tirando água do Jaguari. 

Transposição e derrota. Com o acordo, a vazão do Rio Paraibuna será reduzida de 80 mil litros para 47 mil litros por segundo, também a partir de amanhã, como queria o ONS antes da crise. A medida representa uma derrota para o governo paulista, que pretende fazer transposição de água do Jaguari para a Represa Atibainha, do Sistema Cantareira. A obra, que iniciou a disputa pela água com o Rio, está prevista para o início de 2016, e ajudaria na recuperação do Cantareira.

O Rio, por sua vez, também perde, com a redução do volume de água da barragem de Santa Cecília, de 165 mil litros para 160 mil litros por segundo. Essa medida, contudo, só ocorrerá a partir do dia 10, por causa de obras necessárias para readequação no nível de tomada de água feita pelos municípios.

Publicidade

“Produzimos um acordo. Estamos assegurando as condições de abastecimento”, disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, após reunião realizada durante toda a tarde desta segunda-feira com representantes dos governos federal e de Rio, São Paulo e Minas. Segundo ela, as decisões tomadas não teriam implicações sobre a geração de energia elétrica.

O acordo, disse a ministra, foi referendado por Alckmin e pelo governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), além de ONS e ANA. As decisões anunciadas serão revistas em meados de setembro, quando ocorrerá novo encontro. “É uma ação coordenada. O que queremos é assegurar o abastecimento e prolongar a vida útil dos reservatórios”, disse Izabella. 

O secretário de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo, Mauro Arce, que esteve no encontro, afirmou que a decisão evita um problema futuro. Se mantidas as condições atuais, comentou, a água na região acabaria em meados de outubro. Segundo Carlos Portinho, secretário do Meio Ambiente do Rio, a readequação de vazão da barragem de Santa Cecília também não terá impacto financeiro significativo, porque as alterações não demandam obras significativas de engenharia. / COLABOROU FABIO LEITE

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.