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Fundação da USP paga empresas de docentes

Elas receberam R$ 2,3 mi em contratos de 20 dos 56 projetos analisados pelo ‘Estado’

Por Paulo Saldaña
Atualização:

A Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp), principal entidade privada ligada à USP, tem usado projetos firmados com órgãos públicos para contratar empresas de professores e pesquisadores. O Estado analisou 56 projetos. Em 20 desses havia 44 contratos feitos com 12 empresas de professores e pesquisadores. Elas receberam R$ 2,3 milhões do total de R$ 29 milhões destinados aos 20 projetos. Uma dessas empresas é ligada ao próprio diretor da Fusp.

O Código de Ética da USP condena o conflito entre os interesses pessoais dos servidores e os da universidade. Embora não tenham, por definição, fins lucrativos, as fundações usam a marca USP, a estrutura física e também os docentes para fins privados. O tema é polêmico dentro da universidade, sobretudo por causa da falta de transparência dos recursos recebidos nos convênios. 

Sem fins lucrativos por definição, Fusp usa estrutura e marca da universidade Foto: Clayton de Souza/Estadão

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A legislação permite que órgãos públicos contratem fundações sem que haja licitação. A Prefeitura de São José dos Campos firmou em abril contrato de R$ 12 milhões com a Fusp para que ela desenvolvesse o projeto de um sistema de corredores de ônibus, o chamado BRT (Bus Rapid Transit). Apesar de a fundação ter sido escolhida pela sua “expertise”, a Fusp contratou em junho uma empresa para elaboração de estudos e projetos de instalações elétricas e hidráulicas das paradas. 

Foi realizada uma competição por menor preço e a Electromagnetics, no nome da filha e da mulher do diretor da Fusp, José Roberto Cardoso, foi a escolhida. O acerto é de R$ 546 mil (mais informações nesta página). O contrato garantido por Cardoso representa cerca de 5% do total do projeto, praticamente o que cabe à Reitoria da USP em convênios tocados por fundações. A Prefeitura de São José informou que desconhece “qualquer informação sobre terceirizações do contrato” e teve o comprometimento de que a Fusp vedaria a prática. O município já pagou R$ 6 milhões para a fundação.

Além do projeto do BRT, a reportagem analisou contratos de projetos pagos entre 2009 e 2011. As listas eram as únicas divulgadas pela fundação. 

Nesses contratos, a maioria firmados com a Petrobrás sem licitação, seis professores aparecem como sócios das empresas contratadas. Duas secretárias da Fusp, Marta Veris e Rita Carvalho, são sócias de uma empresa, a Âmbar, que consta na lista de contratações. Com sede no apartamento de uma delas, a Âmbar recebeu dois contratos de mais de R$93 mil. Poli. Grande parte dos projetos é ligada ao laboratório Tanque de Provas Numérico (TPN), da Escola Politécnica. O coordenador do TPN é o professor titular Kazuo Nishimoto, que aparece como gestor de 65 projetos da Fusp com a Petrobrás - alguns já finalizados.

Apesar de ter remuneração prevista como coordenador, Nishimoto tem uma empresa entre as escolhidas para serviços. A Graphos Designer está no nome da mulher de Nishimoto e do professor da Poli Claudio Mueller Prado Sampaio, pesquisador do TPN.

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Em 2010, por exemplo, a Graphos recebeu R$ 39 mil para realizar “serviço de suporte de processamento de informações tecnológicas, coordenação de subequipes e implementação de procedimentos numéricos de avaliação do navio tanque” dentro do projeto 1419 da Petrobrás com a Fusp. Sampaio aparece como coordenador do projeto. 

O professor da Poli Eduardo Aoun Tannuri coordenou o projeto 1806 e, em 2009, pagou dois serviços no valor de R$ 66 mil a uma empresa da qual era sócio-administrador, a Technomar. Ele se retirou da empresa em 2010, mas aparece como sócio de outra empresa, a DT Comp, que recebeu R$ 90 mil em 2011 por dois serviços.

Os professores Cardoso, Nishimoto, Tannuri e as sócias da Âmbar foram procurados, mas não responderam à reportagem. A Reitoria informou que as denúncias serão apuradas. A Fusp não respondeu à reportagem. USP e fundação não informaram quanto recebem os coordenadores dos projetos. 

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