Financiador do PCC e ex-integrante da cúpula da facção, Biroska é morto

Assassinato aconteceu dentro da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde estão presos os líderes da organização criminosa

PUBLICIDADE

Foto do author Marcelo Godoy
Foto do author José Maria Tomazela
Por Marcelo Godoy e José Maria Tomazela
Atualização:

SÃO PAULO E SOROCABA - O traficante de drogas Edilson Borges Nogueira, o Biroska, de 44 anos, foi assassinado a facadas na manhã desta terça-feira, 5, durante o banho de sol na Penitenciária 2 (P2) de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, onde estão detidos a maioria dos chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Um dos maiores líderes e financiadores dessa facção criminosa, Biroska era responsável pelo tráfico de drogas em Diadema, no ABC Paulista, e pertencera à cúpula do crime organizado. Seu assassinato acontece em meio à revelação feita pelo procurador de Justiça Márcio Sérgio Christino de que o líder máximo do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, teria sido informante da polícia, entregando antigos líderes da facção para assumir o poder.

Na prisão, Edilson Borges Nogueira, o Biroska, uniu-se ao Primeiro Comando da Capital, participando durante dez anos da chamada Sintonia Final Geral, a cúpula do PCC Foto: Polícia Militar

PUBLICIDADE

+++ Presos das facções rivais PCC e CV são transferidos entre Rio e SP

Dois homens participaram do ataque a Biroska por volta das 9h10. Seriam os presos Danilo Antonio Cirino Felix, o Montanha, de 29, e Gilberto Souza Barbosa Silva, o Caveira, de 46. Um agente penitenciário que estava no posto de observação, sobre a muralha da unidade, percebeu um movimento em frente ao banheiro coletivo, onde vários presos faziam exercícios de musculação. Ele percebeu que havia uma briga entre os detentos, que se engalfinhavam no chão. 

+++ Polícia prende 5 suspeitos de ligação com facção criminosa no ABC

O agente relatou à polícia ter visto Caveira debruçado sobre a vítima, fazendo gestos como se a golpeasse no tórax. Biroska, que estava sentado, era agarrado pelo pescoço por Montanha. O Grupo de Intervenção Rápida (GIR) da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) do Estado foi acionado e ocupou o raio, mas o detento já estava morto. O estilete usado no crime foi apreendido.

+++ Justiça condena mais sete advogados que trabalhavam para o PCC

Durante o depoimento, os dois suspeitos se negaram a revelar a motivação do assassinato. Peritos do Instituto de Criminalística da Polícia Civil estiveram no local. O corpo de Biroska passou por necrópsia. 

Publicidade

Vida no crime

Para investigadores que acompanham o caso, Biroska jamais seria assassinado na P2 de Presidente Venceslau sem ordem de cima, da cúpula da facção. O bandido estava preso havia 12 anos. Depois de dominar o tráfico de drogas na região de Diadema e expandir seus negócios para a zona sul de São Paulo, Biroska passou a atuar no transporte de drogas para São Paulo. Acabou preso.

Na prisão, ele se uniu ao PCC, participando durante dez anos da chamada Sintonia Final Geral, a cúpula da organização criminosa. Por isso, foi denunciado pelo Ministério Público Estadual em 2013 por organização criminosa. Durante as investigações, 47 fuzis, 64 veículos, 4,7 toneladas de drogas e mais de R$ 1,1 milhão foram apreendidos.

"Esse colegiado de líderes que integram a cúpula da facção dita a 'palavra final' do PCC, ou seja, todos os setores da empresa criminosa são subordinados a eles, nada acontece na rua ou no sistema penitenciário, sem que os referidos líderes tenham avalizado", afirma a denúncia do promotoria.

Foi Biroska um dos traficantes que participaram em outubro de 2010 dos contatos entre a cúpula do PCC com a Amigos dos Amigos (ADA), a facção criminosa fluminense chefiada por Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, então líder do tráfico de drogas na Favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro.

Durante esses anos, o negócio das drogas na região dominada por Biroska era um negócio pessoal do traficante, que ao lado de Marco Paulo Nunes da Silva, o Vietnã, tornou-se um dos grandes financiadores da facção.

As coisas começaram a mudar para Biroska dentro da facção depois de uma briga entre mulheres. De acordo com investigadores, Biroska foi afastado da cúpula porque sua mulher teria se desentendido com outro mulher de um detento do grupo - seu caso seria decidido por Marcola assim que ele deixasse o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), no próximo dia 8, onde foi internado no ano passado. Recentemente, a cúpula da facção soltou um comunicado em apoio a Marcola contra as revelações feitas pelo livro do procurador.

Publicidade

Em liberdade, Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, outro integrante da cúpula, assumiu o comando da facção nas ruas. Gegê primeiro teria assumido o controle do tráfico na fronteira com o Paraguai e, agora, estaria refugiado na Bolívia, de onde comandaria os negócios. Com a morte de Biroska, os investigadores consideram que Gegê deve assumir também o tráfico na zona sul e na região de Diadema, consolidando seu poder no grupo.