Famílias fogem de aluguel alto na Copa e engrossam invasões, diz MTST

Na ocupação Copa do Povo, em Itaquera, renda média das famílias é de R$ 300

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Por Diego Zanchetta
Atualização:

SÃO PAULO - O aumento do valor do aluguel nos bairros próximos da Arena Corinthians, na zona leste de São Paulo, é o que motiva centenas de famílias a aderir às novas invasões promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). A maior parte dos 2,5 mil barracos erguidos desde sábado na ocupação Copa do Povo, em terreno particular de 155 mil metros quadrados em Itaquera, a cerca de 4 quilômetros do estádio que vai receber a abertura do Mundial, é de famílias que recebem R$ 300 mensais do bolsa-aluguel da Prefeitura, conforme os líderes do movimento.

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Essas famílias argumentam não ter dinheiro para pagar o aluguel na região - são R$ 600, em média, por quatro cômodos. Nesta segunda-feira, 5, no terceiro dia de ocupação, a Copa do Povo já não tinha mais espaço para nenhum barraco. Quem chegava para tentar garantir um lugar no terreno já era avisado para desistir pelos coordenadores do MTST. Alguns ignoraram os apelos e começaram a montar barracos em uma parte da mata do Parque do Carmo, em área de preservação permanente.

Centenas de famílias de bairros e de favelas do Jardim Helian, Gleba do Pêssego e Jardim Cibele, áreas carentes localizadas na parte mais alta de Itaquera, de onde é possível ver parte das arquibancadas do estádio que vai receber, no dia 12 de junho, a abertura da Copa do Mundo, dizem ter esperança de sair do aluguel com a ocupação. Muitas se mudaram para o terreno com móveis, camas e geladeiras.

São famílias como a da dona de casa Josefa Soares da Silva, de 48 anos. Ela afirma que os R$ 300 mensais do bolsa-aluguel pagos pela Prefeitura não são mais suficientes para uma moradia "nem em apartamento do Cingapura". "Desde o começo do ano, por causa dessa maldita Copa, os aluguéis começaram a ficar muito altos. Não tem mais nenhum porão por menos de R$ 500", reclama. Hoje, cerca de 60 mil famílias que foram retiradas de áreas de risco e de favelas desde 2011 recebem o bolsa-aluguel da Secretaria Municipal de Habitação.

É o caso também do pedreiro Osmam Mendes, de 49 anos. Morador em uma favela no bairro Cidade Líder, também na zona leste, ele foi despejado há duas semanas, depois que o aluguel saltou de R$ 250, em janeiro, para R$ 700 em março. "Eu consigo tirar R$ 1.200 por mês e tenho duas crianças pequenas. Como vou pagar R$ 700?", questiona. Mendes morava em albergues da Prefeitura desde o dia 15 de abril.

Famílias de cidades vizinhas, como Poá e Ferraz de Vasconcelos, engrossam a ocupação. O sonho que move os invasores é o mesmo: conseguir um apartamento do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida. "Só saio daqui com apartamento, senão vou ficar aqui no barraco mesmo", promete Erinaldo Alves, de 39 anos, que levou até a televisão de 39 polegadas para a ocupação.

Penha. Outra ocupação com cerca de 150 barracos também foi montada desde sábado pelo MTST na Penha, em terreno da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), na Rua Gabriela Mistral, ao lado do Viaduto Carvalho Pinto. As famílias chegaram a desocupar a área ontem à tarde, após negociação com o governo estadual, mas voltaram após duas horas.

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Os sem-teto também tentavam ontem conseguir a adesão de famílias para promover uma invasão no terreno da antiga Esso na Mooca, uma área de 97 mil metros quadrados prevista para virar parque, conforme lei municipal de 2009. O terreno, na Rua Barão de Monsanto, está vazio desde 2004 e é cobiçado por incorporadoras desde que a descontaminação ambiental do solo foi concluída, há dois anos.

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