'Está tudo do mesmo jeito, não investigaram'

Famílias de pessoas assassinadas continuam sem respostas da polícia sobre os crimes

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Por Alexandre Hisayasu , e Felipe Resk
Atualização:
A cozinheira AlietiSilva cobra esclarecimentos sobre assassinato da neta Foto: Hélvio Romero/Estadão

Familiares de pessoas assassinadas em São Paulo, cujas ocorrências acabaram registradas como “morte suspeita”, são obrigados a conviver com uma dupla ausência. A primeira, imediata, é a do ente querido. A segunda, depois disso, é a de respostas. Passados mais de cinco meses da denúncia dos casos, feita pelo Estado, eles são unânimes ao responder sobre o que foi feito nas investigações policiais: “Nada”.

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“Está do mesmo jeitinho, não aconteceu nada”, conta a cozinheira Alieti da Silva, de 65 anos, avó da jovem Thuany Tainá de Sousa Monteiro, morta aos 19 anos após ser agredida por uma vizinha com uma pancada na nuca e dois chutes no rosto. O crime aconteceu em janeiro de 2015.

Além da neta, Alieti também perdeu uma filha e um filho, vítimas de homicídio. “Nunca me deram uma satisfação. Acho que fazem pouco caso porque a gente é pobre, e pobre não existe”, afirma a cozinheira, que mantém a esperança de ver os culpados punidos. “Eu espero que, pelo menos, ela passe na mão da Justiça, até para não acontecer com outras pessoas”, diz. “Não podem achar que matar alguém é igual a matar uma barata. Você faz e segue a vida normalmente.”

No dia da morte de Thuany Tainá, Alieti foi informada por moradores da região, em Cidade A.E. Carvalho, na zona leste, que a agressora era uma vizinha, que fugiu logo depois. “Esses dias, ela esteve na casa, catou a mudança e saiu. Agora, a casa está alugada.”

Na mesma. O Estado entrou em contato com familiares e amigos de outras três vítimas. Todos disseram não haver avanço na apuração e que continuam sem saber quem são os autores dos crimes. “Não vão investigar. Já tem um ano e meio, não vai dar solução nenhuma”, diz um irmão do mecânico Lucas Valadão Coelho, de 32 anos, encontrado deitado dentro de uma Kombi, enforcado, também em janeiro do ano passado. 

Na delegacia, os policiais levantaram suspeita de que Coelho pudesse ter cometido suicídio. Já o irmão diz que, para isso, ele precisaria ter se enforcado deitado. “Como não vai ter Justiça, deixa na mão de Deus. Ele sabe o que vai fazer com essa pessoa que matou, quando ela chegar lá em cima”, afirma.

Uma irmã do servente Vanderlei Aparecido Duque, morto aos 49 anos, também diz não esperar mais pelas investigações. “Não desisti, é que eu acredito que a Justiça da Terra é muito cega, demorada e injusta. Não confio. Acredito na Justiça do céu: essa daí não falha nunca.”

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Em 2015, Duque foi a um bar na zona leste, envolveu-se numa briga, recebeu uma “gravata” e desmaiou. Ele chegou a ficar internado, mas não voltou a acordar. Como sofria de problema renal, há suspeita de negligência médica. “Até hoje não descobrimos o que houve.”

“A gente fica desanimado”, diz uma amiga do nigeriano Onyeka Osilonya, de 35 anos, morto em abril. Segundo ela, o médico afirmou que Osilonya sofreu uma pancada na cabeça – e não um atropelamento, como suspeitou a polícia. O inquérito só foi instaurado em fevereiro deste ano. “É muito tarde.”

Em nota, a SSP afirma que os casos seguem em andamento – exceto o de Duque, que teria sido relatado e encaminhado à Justiça como “lesão corporal seguida de morte”.

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