O exorcismo se tornou popular no catolicismo na Renascença, depois do século 17, segundo o doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) Philippe Sartin. Naquela época, atos do tipo eram vistos como uma forma de evitar a debandada de fiéis com a Reforma Protestante. “Servia de propaganda religiosa. Quando o padre conseguia expulsar um demônio ficava patente naquela população que a Igreja triunfou sobre o demônio. Era um tipo de legitimidade que os protestantes não conseguiam ter.”
Segundo Sartin, o subsídio publicado pela CNBB não é um incentivo, mas uma forma de dar “limites aceitáveis” para a prática do exorcismo, como, por exemplo, de ser realizado apenas por padres com licença expressa do bispo. “O texto admite certas coisas, mas doutrinando, disciplinando. Do ponto de vista teológico, seria impossível a Igreja negar a prática, porque está na Bíblia. Então, resta fazer, mas da forma mais racional possível, para não virar propaganda negativa”, diz.
Já Francisco Borba, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), aponta que o ceticismo também influencia no retorno do exorcismo. “No mundo moderno, haveria apenas a natureza explicada pela ciência. Quanto mais a gente se afasta da religião, paradoxalmente, mais se aproxima dessas manifestações extraordinárias. Nossa sociedade se torna cada vez mais ansiosa por respostas místicas, quase mágicas, para manifestações culturais, para tornar a vida de certa forma menos insossa”, ressalta.
Ex-reitor da PUC-Rio, o padre Jesus Hortal Sanchez reitera, contudo, que o tema ainda tem pouca atenção da Igreja Católica. “Converso com muitos padres e eles estão preocupados com outras questões, como a transmissão da mensagem do Evangelho de Cristo e a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. O cristianismo tem uma função social, de olhar para toda a sociedade, não quer apenas salvar almas, mas construir o reino de Deus.”