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Espaço zen e ofurô viram 'micos' nos prédios

Moda há 10 anos, esses equipamentos atraem poucos moradores nos condomínios de SP

Por Edison Veiga
Atualização:

Fetiche no início dos anos 2000, os condomínios-clube - aqueles com dezenas de equipamentos de lazer - vivem um momento de decadência, apontam especialistas. O paulistano percebeu que não adianta bancar um prédio com uma estrutura cheia de coisas que ele não usa. Por isso, hoje a preferência é por condomínios com poucos, mas amplamente utilizados, itens de lazer: os clássicos piscina, salão de festas e parquinho infantil.

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A tendência é comprovada por recente pesquisa realizada pela empresa Lello, maior administradora de condomínios de São Paulo. A ociosidade tem transformado áreas originalmente pomposas, como ofurô, espaço zen e pet care, em verdadeiros micos. O levantamento, para o qual foram pesquisados 1,4 mil condomínios paulistanos, mostra que até a sauna é pouco usada pelos condôminos - mas há quem não abra mão.

De acordo com a gerente da Divisão de Atendimento ao Cliente da empresa, Márcia Romão, o pouco uso de sauna e ofurô justifica-se por se tratar de espaços "muito íntimos". "É diferente quando se está em um hotel ou spa. Nos condomínios, o usuário acaba encontrando e convivendo com os vizinhos praticamente todos os dias", avalia Márcia.

Uma síndica de um condomínio da zona norte que inaugurou, há dois meses, um espaço com ofurô e sauna diz que foi voto vencido na assembleia que decidiu fazer o investimento - ela pediu para não ser identificada, por receio de críticas dos outros moradores. "Estamos comprometendo 20% de nossa arrecadação por um ano para o pagamento da criação dessas áreas."

"Dois meses depois, pouquíssimos condôminos estão usando e ainda temos de arcar com a manutenção." Ela conta que um novo funcionário foi contratado para, entre outras funções, zelar pela área. "Ou seja: o investimento se tornou um mico", conclui. "Sobraram as contas para pagar."

Tendência.

Especialistas em mercado imobiliário concordam que a tendência atual é de um enxugamento na estrutura do prédio para equipamentos que sejam efetivamente usados - e sem desperdiçar o dinheiro do condomínio.

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"Houve um fenômeno, na década passada, em que parecia uma corrida, uma competição entre as construtoras para ver quem oferecia um empreendimento com mais itens de lazer. Alguns chegavam a ter 50 equipamentos do tipo. Havia ofurô, sauna, praça da água, praça do fogo, praça de não sei mais o quê...", comenta o publicitário Carlos Valladão, cuja empresa atua há 23 anos no mercado imobiliário. "Naquele momento, isso poderia fazer sentido. De uns anos para cá, isso mudou. Agora a tendência é outra."

De acordo com ele, as pessoas passaram a perceber que algumas áreas são tão pouco utilizadas que não justificam o investimento. "Hoje, os novos condomínios têm oferecido poucos itens, mas com mais qualidade", diz Valladão. "As pessoas querem apenas o que vão usar. E cada vez mais estão preocupadas com qualquer tipo de desperdício."

Muito vapor.

Mas há quem não abra mão de ter sauna em seu prédio. Caso do bancário Oscar Anthony, de 36 anos, morador de um condomínio em Indianópolis, bairro da zona sul de São Paulo. "Acredito que 10% dos moradores do meu prédio usam a sauna; eu uso uma vez por semana", conta. "Moro há oito anos aqui. E o fato de ter sauna pesou fortemente na escolha, acho fundamental."

Anthony também é assíduo usuário da piscina. "Temos uma com raia de 25 metros", afirma ele. Mas dispensa o ofurô. "Não acho muito higiênico."

Moradora de um condomínio na Barra Funda, zona oeste da cidade, a empresária Maria Adelaide Guimarães, de 40 anos, também não fica sem a sauna semanal. "É um hábito que adquiri quando morei na Europa", conta ela, que voltou a São Paulo há três anos, depois de passar uma década vivendo em Berlim. "Lá havia uma oferta de saunas na cidade, uma questão cultural mesmo. Já o paulistano que gosta de fazer sauna, em geral prefere contar com um espaço em casa ou no condomínio."

Na hora de procurar apartamento na cidade, Maria Adelaide não teve dúvidas: avisou os corretores que ter um espaço assim era pré-requisito. Fundamental.

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