Engenheiro é eletrocutado na Linha 4

Sem equipamentos de segurança, ele recebeu descarga de 22 mil volts na Subestação Fradique Coutinho; energia deveria estar desligada

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Por Elvis Pereira
Atualização:

A Polícia Civil instaurou inquérito ontem para investigar a morte do engenheiro eletricista Ricardo Gomes Martins, de 48 anos. Ele foi eletrocutado com descarga de 22 mil volts na Subestação Fradique Coutinho, da Linha 4-Amarela do Metrô, na zona oeste de São Paulo. Uma das principais dúvidas é por que a energia estava ligada no momento do acidente - mais um na lista de ocorrências desde o início da construção da linha, em 2004. Por volta da 1 hora de ontem, Martins e outro técnico efetuavam manutenção no local, responsável por distribuir eletricidade para parte da Linha 4-Amarela. A dupla, segundo a polícia, trabalhava em um "cubículo" cercado por barras com alta corrente elétrica. Em depoimento, o técnico contou que Martins escorregou e caiu sobre a rede elétrica. Ao ver o colega ferido, saiu para buscar ajuda. Acionado, um médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência tentou reanimar o engenheiro, sem sucesso. O delegado Mauro José Arthur, do 14.º Distrito Policial (Pinheiros), verificou o local do acidente ainda de madrugada. "Olhei atentamente o piso e não consegui entender como a vítima escorregou", observou no boletim de ocorrência. "Não há indícios de que a vítima tenha escorregado e o piso não proporciona tal verificação." O policial citou, ainda, o fato de que o engenheiro trabalhava sem equipamentos de segurança, como luvas ou roupas especiais. "Também soube o delegado que o barramento em que a vítima sofreu o choque estava energizado. Não deveria, mas estava", consta do boletim. Procurado, o Consórcio Via Amarela não respondeu, até as 20 horas, por que a rede de energia não estava desligada durante o serviço de manutenção. Em nota, o consórcio lamentou o ocorrido. "Trata-se de uma fatalidade com profissional de larga experiência que prestava serviços." Já o Metrô informou, também em nota, que acompanha os desdobramentos do caso e analisa as causas do acidente. Tanto o Consórcio Via Amarela quanto o Metrô prometeram dar assistência à família de Martins. Precariedade. Para o Sindicato do Metroviários, a morte do engenheiro evidencia a "precarização" das obras realizadas em parcerias público-privadas. "Não há preocupação em prestar serviços com qualidade e segurança à população", afirmou a entidade. A Superintendência Regional do Ministério do Trabalho e do Emprego enviou ontem representantes à subestação para apurar o acidente. O órgão destacou que não há regras que determinem o uso de equipamentos de proteção individual para a execução de manutenção elétrica.CRONOLOGIAObra acumula acidentes16 de março de 2005Explosão na Estação Butantã feriu três operários.2 de dezembro de 2005Funcionário que trabalhava na Estação Vila Sônia teve perna quebrada ao ser atingido por barra de ferro e cair em poço.3 de dezembro de 2005Parede de túnel cedeu entre as Estações Pinheiros e Faria Lima, derrubou uma casa e danificou outras duas.19 de abril de 2006 Teto cedeu entre as Estações Pinheiros e Faria Lima e oito imóveis foram interditados.3 de outubro de 2006O operário José Alves Souza, de 56 anos, morreu em desmoronamento na Oscar Freire. 12 de janeiro de 2007Parede cedeu na Estação Pinheiros e matou sete pessoas; 230 ficaram desabrigadas.

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