Em Marsilac, poço seco faz morador ir até mina

População que mora no extremo sul da cidade tem de caminhar para ter água; cisternas secaram dois meses antes do previsto

PUBLICIDADE

Por Diego Zanchetta
Atualização:

A 55 quilômetros do centro de São Paulo, no distrito de Engenheiro Marsilac, extremo da zona sul, a seca em poços artesianos que abastecem cerca de 30 mil pessoas começou dois meses antes do previsto neste ano. A maior parte da região não tem água encanada da Sabesp - a legislação estadual impede a construção de tubulações subterrâneas em áreas de preservação ambiental e de mananciais.Com dois baldes de plástico de 20 litros cada, Valdir Ribeiro, de 54 anos, anda todos os dias 2,5 quilômetros de sua casa, no km 47 da Estrada de Marsilac, no Jardim Imbuia, até a mata onde está uma mina usada por moradores da região."Normalmente o poço fica sem água entre julho e setembro. Só que, neste ano, acabou antes, em abril. Agora, só indo até a mina", conta Ribeiro, que mora com a mãe, Vicentina Godoy, de 66 anos. Ela também caminha na mata para buscar água todos os dias."O nível dos rios caem, e o poço seca ao mesmo tempo. Mas nunca tinha faltado água em abril, maio. Era só a partir de julho. A coisa está feia, a gente economiza cada gota aqui. Roupa, só lavamos na mão mesmo", diz Vicentina. Quando ela liga o poço para tentar bombear água para sua caixa d'água improvisada no quintal, as paredes da casa trepidam com o barulho, parecido com o do motor de uma Kombi. A situação é pior ainda para quem mora na região da Estrada do Mato Alto, quase dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Capivari-Monos, última região habitada de São Paulo antes do Parque da Serra do Mar.Lá, os moradores têm feito mais escavações, na tentativa de aprofundar os poços secos. "O difícil é que não sabemos qual é a qualidade da água do fundo. Mas não há opção. Secou tudo o que era poço. Mesmo na mina lá dentro da Serra do Mar, a água virou um filetinho só", diz Mariana Roscht, de 52 anos, em Marsilac desde 1974. Mina. Em Parelheiros, também no extremo sul, a falta de água atinge a populosa Vila Rocha, onde a maioria dos moradores também usa poços artesianos. "Está todo mundo indo buscar água nas minas no meio do mato. Só lá agora o poço secou. Eu tenho comido na panela para não 'gastar' prato. Como vou lavar louça?", diz o marceneiro Eduardo Bello, de 48 anos.Bello conta já ter passado três dias, no início do ano, sem uma gota nas torneiras. "Estou aqui há três anos só, morava no centro. Queria sossego, mas sem água prefiro voltar. Estou economizando dinheiro para sair daqui." / DIEGO ZANCHETTA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.