De cesta a garçom: piquenique ganha versão gourmet

Mercado de empresas que oferecem serviço em parques e praças nasce de ocupação mais frequente em espaços públicos na cidade

PUBLICIDADE

Por Edison Veiga
Atualização:

Gourmetizaram o piquenique ou simplificaram a festa? Na manhã de ontem, a Praça Barão Pinto Lima, em Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, teve toalhas charmosas no chão, comes e bebes, alegria. Mas não era um piquenique convencional, desses que o participante bota tudo numa cestinha e vai para o parque.

“Como era para comemorar o aniversário do meu marido (o publicitário Gustavo, que fez 34 anos), achei que valia a pena algo especial”, conta a produtora cultural Giovana Menniti, de 32 anos. Isso significa que o convescote teve hora para começar e hora para acabar (quatro horas de duração), havia funcionários montando tudo antes e desmontando tudo depois – um deles de prontidão para ajudar a recolher o lixo durante a festa –, e um pequeno e descolado mobiliário. Um pacote que custa cerca de R$ 2,1 mil.

Giovanna e sua familia comemoram o aniversario de seu marido, Gustavo, com um piquenique profissional , na Praca Barao Pinto Lima, Alto de Pinheiros; empresa Convescotes oferece pacotes conforme necessidade do cliente Giovanna e sua familia comemoram o aniversario de seu marido, Gustavo, com um piquenique profissional , na Praca Barao Pinto Lima, Alto de Pinheiros; Foto: Gabriela Biló

PUBLICIDADE

É um mercado que nasce em São Paulo de carona no fato de que o paulistano tem cada vez mais desfrutado dos espaços públicos – um movimento consolidado com a abertura de vias para pedestres aos fins de semana, com ciclovias por toda parte e a própria noção de “pertencimento”, como dizem os especialistas, sendo revigorada. A velha tradição de comer e beber ao ar livre, rodeado por amigos, está sendo recuperada.

A empresa Convescotes (www.convescotes.com), que organizou a festa de ontem, acabou de ser fundada por dois arquitetos paulistanos e uma advogada carioca. De olho em quem gosta da ideia, mas não tem tempo ou vontade de organizar todo o ritual, eles oferecem pacotes conforme a necessidade do cliente. 

Há desde mobiliários específicos – pequenas cadeiras de madeira – até toalhas, cestas e caixas de isopor. “Também viabilizamos comidas e bebidas, por meio de parceiros”, conta uma das sócias, a arquiteta Harissa Bittar. “Se o cliente quiser, providenciamos até garçom.”

Há ainda um outro serviço oferecido “de brinde” pelo pacote: monitorar a previsão do tempo. Afinal, se o clima não cooperar, infelizmente, a solução é adiar o convescote. Para evitar problemas, eles também ajudam a viabilizar a autorização da administração do parque. “A lei diz que só é preciso autorização para eventos com mais de 200 pessoas”, diz Harissa. “Mesmo assim, nos precavemos.” 

Ao fim de cada evento, o compromisso ecológico. “Também fazemos o plantio de uma muda de árvore ou arbusto nativo com o nome do aniversariante, no local do evento ou em outro próximo”, conta Harissa. 

Publicidade

Mania. Claro que o velho piquenique espontâneo não perde a vez. Uma cesta charmosa, toalha xadrez, pães, bolos... No feriado do 7 de Setembro, o café da manhã da antropóloga e escritora Deborah Goldemberg, de 41 anos, foi assim, no Parque do Povo, na zona sul de São Paulo. Com sua filha Pauline, de 5 anos, e amigos. “Faço piquenique quase todo fim de semana”, disse Deborah. “Parque é a praia do paulista. E gosto de buscar lugares novos: uma praça que ainda não conheço, um parque diferente...”

Para os adeptos, a graça está nos detalhes: uma cesta bonita, uma toalha adequada, pratinhos e copos coloridos. “Acho uma delícia. Mas há um ritual, com os acessórios certos. É muito gostoso comer em contato com a natureza”, conta a restauradora e coaching Taluhama Counna, de 54 anos. Moradora da Aclimação, região central da cidade, ela geralmente faz convescotes no parque homônimo – com as três netas, respectivamente de 12, 3 e 1 ano, e amigos. 

Ritual. Entusiasta do tema, a chef de cozinha Heloisa Bacellar diz que há alguns segredos para um piquenique ideal. “A grande questão é tentar se programar ao máximo, para dar charme ao momento. Quem vai ao piquenique está querendo comer fora, fugir da rotina, trocar o teto pelo céu. Isso implica numa sensação de liberdade, muito gostosa e prazerosa”, filosofa. 

Então, orienta ela, nada de “colocar tudo numa quentinha super sem graça e fazer um piquenique”. “Hoje em dia, em qualquer supermercado da esquina você encontra um guardanapo bonitinho, pratinhos fofos, copos coloridos. Com isso, o momento terá charme. Será divertido para crianças. Será romântico para adultos”, comenta ela. Também é preciso atenção às comidinhas. Em tese, qualquer coisa pode ser levada. Mas, conforme aconselha Heloisa, vale a pena pensar em porções pequenas, já divididas, para facilitar. “Em vez de um torta, é melhor levar várias minitortinhas”, exemplifica. “E fechar bem os potes todos. Nada mais chato do que aquela surpresa desagradável de abrir a cesta e ver que vazou tudo.”

Deborah Goldemberg (de amarelo), sua filha Pauline, a amiga Lidiane Oliveira e seu filho Eduardo, aproveitam piquenique no Parque do Povo. Foto: Sergio Castro

Em 2014, seu restaurante e armazém Lá da Venda, na Vila Madalena, comercializou um kit pronto para piquenique – era uma ação sazonal, em parceria com uma marca de vinhos. Por R$ 120 servia duas pessoas. Vinha com duas taças, sacarrolhas, guardanapos e uma ecobag que se transforma na clássica toalha xadrez. Ah, sim, e os quitutes… Foi um sucesso, mas a parceria não foi continuada. Atualmente, ela vende ali cestas e toalhas – além de algumas comidinhas que podem ser levadas. Mas é preciso montar cada um o seu kit. “Estou avaliando a ideia de voltar com os pacotes prontos”, adianta ela. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.