São Paulo vai formar profissionais do samba a partir deste ano. A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo e o Instituto do Carnaval do Rio se uniram para trazer para a capital paulista o primeiro curso de nível superior de tecnologia em carnaval, com duração de dois anos. No Rio, a formação em "gestor de carnaval" existe desde 2005. Aqui, a profissionalização da folia está prevista para chegar ainda neste semestre, com pelo menos três turmas, de 20 alunos cada.
Não, ninguém vai ensinar o paulistano a compor samba-enredo ou a sambar direito. O objetivo é investir na formação acadêmica para a produção e a organização do evento. "Os aspectos simbólicos do carnaval estão preservados", explica Bruno Filippo, coordenador-geral do Instituto do Carnaval. Por lá, o curso foi chamado de Gestão de Eventos e Festas Carnavalescas.
Segundo Filippo, o estudante vai aprender, por exemplo, a pesquisar dados para compor as alegorias e fantasias para o desfile, a substituir materiais para reduzir custos, a planejar a organização da produção e do desfile e até como captar recursos. A grade também é composta de disciplinas teóricas que abordam os aspectos sociológicos e antropológicos da história do carnaval.
"A ideia é dar uma formação mais acadêmica e sólida aos profissionais das diversas áreas de produção do carnaval", defende Filippo. "Há uma grande diferença entre o espetáculo e o processo de produção. Há muito amadorismo ainda e o resultado aparece na avenida."
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Os dados oficiais da Prefeitura de São Paulo reforçam a aposta do Instituto do Carnaval. De acordo com levantamento da Secretaria municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, em 2006, 80,5% dos trabalhadores envolvidos na produção do carnaval paulistano não fizeram nenhum curso preparatório.
Cifras. O carnaval paulistano movimenta aproximadamente R$ 45,4 milhões em investimentos públicos e privados, mas o retorno é dobrado e ultrapassa os R$ 90 milhões de gastos de turistas na cidade durante o evento. Emprega, diretamente nos barracões das escolas e blocos, quase 5 mil pessoas.
"O projeto é arrojado", define Paulo Sérgio Ferreira, o Serginho da Vila Maria, presidente da Liga. "O carnaval de São Paulo está crescendo muito rápido. Quem não se profissionalizar vai ficar para trás", diz ele, ao defender o curso em São Paulo.
Ferreira sonha alto e já vislumbra a possibilidade de criar uma versão digital do curso e formar profissionais a distância, inclusive jurados para o interior e Baixada Santista a partir de 2012.
As entidades ainda vão fechar parceria com uma universidade paulistana, cujo nome não foi revelado.
PROFISSIONALIZAÇÃO
O curso tem quatro partes:
Humanas: engloba sociologia, antropologia e história do carnaval.
Artes plásticas: história da arte, figurino (fantasia e alegoria) e cenografia.
Planejamento: organização do desfile na avenida e eventos relacionados.
Gestão: questões administrativas e financeiras do carnaval.