Cresce total de casos de trombose após cirurgia

Instituto de Traumatologia faz campanha para prevenir coágulos em pacientes

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Por Clarissa Thomé
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A dona de casa Elisabeth Miranda Dias, de 89 anos, passava pano de chão no banheiro, quando escorregou. Foi o tombo de número 26. Elisabeth é do tipo organizada e anota tudo: já havia caído na rua, no jardim, na sala de visitas, enumera. Desta vez, o fêmur direito ficou em formato de T. Viúva e sem filhos, estava sozinha em casa. "Nunca gritei tanto. Era muita dor. Gritei até os vizinhos ouvirem e me socorrerem."A queda 26 aconteceu em abril, mas Elisabeth continua internada. A causa é uma trombose, entupimento em uma das veias. Quando há o agravamento da trombose, o coágulo que se forma pode se soltar e seguir até o pulmão, provocando a embolia pulmonar e até a morte. Elisabeth foi operada no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), no Rio, referência em cirurgias ortopédicas de alta complexidade. Em 2013, a trombose acometeu uma em cada cem pessoas operadas no hospital. Naquele ano, houve 9.729 cirurgias. Em 2014, veio o alerta: mesmo com a redução de 40% das operações por causa de uma greve que durou cinco meses, dois em cada cem pacientes tiveram trombose.

Elisabeth: 'Ando ralhando com Jesus. O que é que eu fiz para merecer isso?' Foto: Divulgação/Vini Arruda

O aumento dos casos de coágulos pós-cirúrgicos levou o Into a lançar uma campanha para evitar o problema. "Aparece uma vermelhidão, a perna incha e esse inchaço dificulta a recuperação do paciente, retarda a mobilidade e aumenta o tempo de internação. Existem medidas que podem evitar esse quadro", afirma o diretor-geral do Into, João Matheus Guimarães. Após a cirurgia, os pacientes recebem medicamentos anticoagulantes, que devem ser tomados entre 15 e 35 dias, dependendo do tipo de operação. Muitos acabam abandonando o tratamento, que consiste em injeções subcutâneas diárias. Guimarães também recomenda a fisioterapia precoce. "O paciente tem de ser estimulado a se mexer. Ficar acamado aumenta o risco de trombose." Na cartilha que está sendo distribuída para as 10 mil pessoas que passam pelo Into diariamente, há dicas de movimentos simples, como mexer os pés para cima e para baixo por 20 vezes ou pressionar a coxa contra a cama, contar até seis, relaxar e repetir dez vezes. Também sugere-se ingerir dois litros de água por dia. A trombose após as cirurgias acontece porque, no momento em que o paciente tem tecidos como pele e músculos cortados durante a operação, o organismo interpreta que está sofrendo uma agressão e libera substâncias na corrente sanguínea para coagular uma suposta hemorragia. Como não está acontecendo nenhum sangramento descontrolado, a reação acaba provocando coágulos. Algumas cirurgias têm maior risco de provocar esse entupimento nas veias. No caso de lesão medular, varia entre 60% e 80% dos casos; politraumatizados têm 40% de chance de sofrerem trombose pós-cirúrgica. "A literatura médica mostra que neurocirurgias e cirurgias ginecológicas estão entre as que mais têm risco de trombose. Essas recomendações valem para todas as cirurgias", afirma Guimarães. Os pacientes devem ficar atentos a sinais como uma dor diferente da dor da cirurgia, vermelhidão e inchaço que aparecem nas pernas (trombose periférica) ou nas coxas (trombose proximal). A temperatura também aumenta na perna que está doendo. Respiração curta e rápida e palpitações, que podem levar a desmaios, tosse com sangue e dor incomum no peito ou nas costas são sinais de que a situação se agravou.Quedas. No Into, 65% das cirurgias de fraturas são provocadas por quedas. Dessas, 55% acontecem dentro de casa - é o caso de Elisabeth. Ela está satisfeita porque o inchaço na perna direita diminuiu, mas se queixa da internação prolongada, das dores. "Chorei hoje. Tinha de fazer ginástica, a moça queria que eu levantasse a perna. Ando ralhando com Jesus. O que é que eu fiz para merecer isso?"

 Foto: Infográficos/Estadão
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