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Corte atinge merenda de clube-escola

Secretaria de Esportes, em cumprimento à ordem de Haddad, busca economia de 25%; 'adequação' implica demissão de professores

Por Nataly Costa
Atualização:

A Prefeitura de São Paulo está cortando até 25% do orçamento dos 105 clubes-escola, estruturas públicas que oferecem atividades esportivas gratuitas para comunidades carentes. A verba servia para pagar professores, material para as aulas e até o lanche para as crianças. Um ofício enviado pelo coordenador de Gestão das Políticas e Programas de Esporte e Lazer da Secretaria de Esportes aos coordenadores dessas entidades orienta uma redução de custos de 22% a 25%. O documento sugere também que a "adequação" seja feita nos serviços de manutenção dos clubes, no material esportivo, na carga horária dos auxiliares e no corte de professores, "se necessário".E a "adequação" foi feita. No Clube-Escola Vila Missionária, no bairro de mesmo nome no extremo sul da capital, a administração teve de demitir o professor de capoeira que dava aula para mais de cem crianças, além de quatro professores auxiliares e estagiários. Ao todo, a entidade tem 731 alunos, entre eles uma turma da terceira idade que faz ginástica pela manhã. "Os pais estão revoltados. Para onde vão todas essas crianças que ficarão sem atividades? Como a gente fala para eles que não tem mais aula?", questiona Luana Ribeiro, coordenadora do Vila Missionária. Ultimamente até ela tem dado aula de capoeira voluntariamente para não deixar as crianças desassistidas. Prato vazio. No Novo Glicério, espécie de clube-escola modelo tocado pela ex-doméstica Eva Alves, a "tia Eva", que é voluntária, o corte vai ser feito na refeição dos cerca de 200 alunos. Todos fazem futebol e o clube só aceita crianças matriculadas em colégios. "Só tenho três funcionários, um único professor que dá todas as aulas de segunda a sexta. Tem de cortar no lanche que custa apenas R$ 3 por aluno", explica Eva. Presidente da Associação Acezos, uma ONG que é responsável pelo repasse de verba a cinco clubes-escola - Vila Missionária, Jardim das Vertentes, Jardim Noêmia, Ébanos e Lourenço Cabrero, todos na periferia das zonas sul e leste -, Paulo César Vieira mudou o planejamento das aulas nas entidades. "O que era de segunda a sexta passou a ser duas vezes por semana. Algumas turmas estão enormes, algumas passaram de 180 para 400 alunos, porque a gente simplesmente não pode chegar para o pai de uma criança e falar que não vai fazer mais a inscrição", diz Vieira. Segundo ele, o orçamento de cada clube é de cerca de R$ 39 mil por mês. Decreto do prefeito. A ordem de cortar custos não vale apenas para a Secretaria de Esportes - essa é apenas a primeira pasta a acatar o decreto do prefeito Fernando Haddad (PT) publicado em fevereiro no Diário Oficial da Cidade, que manda todas as secretarias renegociarem contratos já firmados e, com isso, economizar pelo menos 20%. Questionada sobre por qual razão o corte atingiu justamente os clubes-escola instalados na periferia, a Secretaria Municipal de Esportes respondeu que a redução de orçamento obedece ao decreto e "não há um foco específico direcionado aos clubes esportivos públicos" porque "todos os contratos da pasta estão sendo revistos". A Assessoria de Imprensa do prefeito Fernando Haddad (PT) informou que "o decreto referido determina, para todas as unidades orçamentárias da Prefeitura, um esforço de redução do custeio da máquina de, em média, 20%".

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