SÃO PAULO - O funcionário de uma empresa especializada em remoção clínica e psiquiátrica, Bruno de Oliveira Tavares, de 34 anos, foi encontrado morto, após ter sido sequestrado, torturado e mantido em cárcere privado na Cracolândia, no centro de São Paulo. Ele ficou quatro dias em poder de criminosos, que despejaram o corpo no Bom Retiro. As mãos estavam atadas por fita adesiva e havia marcas de agressão.
A principal suspeita da Polícia Civil é que Tavares foi assassinado por membros do Primeiro Comando da Capital (PCC). De acordo com investigações, traficantes da região o confundiram com um policial. Para se defender, a vítima teria tentado convencer os criminosos de que, na verdade, era integrante do Comando Vermelho (CV), do Rio. A facção, no entanto, é rival da paulista.
Carioca, Tavares estava há cerca de 20 dias em São Paulo e trabalhava para a empresa Restart. O serviço de remoção de pacientes havia sido contratado pela mãe de uma jovem de 27 anos, que é usuária de drogas e trava uma rotina de idas e voltas na Cracolândia, segundo investigadores.
Ele e o proprietário da empresa foram até a Alameda Dino Bueno na última quarta, 3. Por volta das 15h, eles perguntaram a um “disciplina”, espécie de coordenador do crime na área, sobre o paradeiro da jovem, segundo relatou o empresário na delegacia. O traficante, porém, teria exigido a presença da mãe dela no local.
O proprietário, então, foi buscá-la na ambulância, que estava estacionada a cerca de 300 metros do lugar. Minutos depois, ao retornar com a mulher, Tavares já havia sumido. Aos policiais, a testemunha disse ter questionado o criminoso. “Ele ficou pagando que era do Comando Vermelho, a gente levou para questionar”, teria respondido. “Se não for, a gente solta.”
O empresário só foi ao 3;º Distrito Policial (Campos Elísios) registrar um boletim de ocorrência no dia seguinte. Ele justificou que ficou procurando por Tavares até de noite e que a mulher da vítima, moradora do Rio, havia conseguido falar com ele por celular, às 20h30. A ela, Tavares teria dito que “estavam segurando ele lá”, que “estava bem” e que “não poderia falar mais nada”. Segundo as investigações, as mensagens de Whatsapp chegavam a ser visualizadas, mas ficavam sem resposta.
Droga. Na delegacia, o empresário também relatou que Tavares foi usuário de droga, mas “estava limpo” há um ano. No último exame toxicológico dele, feito recentemente, o resultado deu negativo para maconha e cocaína.
Sem a certeza sobre o local do cativeiro, a Polícia acionou informantes e infiltrou agentes na região. Investigadores afirmam que Tavares foi rendido por dois a três “disciplinas” e levado para um imóvel na Cracolândia, ainda não identificado, onde passou por interrogatório e tortura. Os traficantes também teriam encontrado um “crachá de segurança” com ele - o que reforça a hipótese de que a vítima foi confundida com um agente policial.
A Polícia Civil tem informações de que Tavares ainda estava vivo na sexta-feira, 5, e acredita que ele foi assassinado na noite de sábado para domingo. Agora, os investigadores tentam identificar os criminosos que o renderam, além dos responsáveis por interrogá-lo, pela ordem de execução e por consumar o homicídio.
O delegado Osvany Zanetta Barbosa, titular do 3.º DP, que registrou o caso, disse ter comunicado imediatamente a ocorrência à Polícia Militar, mas a Tropa de Choque não recebeu autorização para agir. “Haveria consequências porque os usuários sempre reagem à entrada de policiais. E não havia certeza de que o cativeiro era lá dentro."
Moradores do Bom Retiro encontraram o corpo da vítima no domingo, 7, na Rua Neves de Carvalho, a menos de 3 km da Cracolândia. O cadáver foi reconhecido no Instituto Médico Legal (IML) pelo pai de Tavares nesta terça-feira, 9.