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Controladoria diz que Prefeitura pagou 156 sem comprovar que serviço é feito

Contrato com a Call Tecnologia foi firmado na gestão Kassab e renovado na de Haddad; prejuízo pode chegar a R$ 28 milhões

Por Bruno Ribeiro
Atualização:

SÃO PAULO - Relatório da Controladoria-Geral do Município aponta falhas no contrato do serviço 156, o telemarketing da Prefeitura, elaborado na gestão Gilberto Kassab (PSD) e renovado na de Fernando Haddad (PT). Os indícios são de que a Secretaria de Comunicação pagou por serviços sem comprovar se eles foram executados e o contrato teve um dispositivo para parecer artificialmente mais barato, chamado "jogo de planilhas". A estimativa da CGM é de prejuízo de R$ 28 milhões.Kassab alegou desconhecer relatório e destacou que o contrato passou por análise do Tribunal de Contas do Município. Já a gestão Haddad disse que não houve tempo de realizar nova licitação no início de governo, mas adotará as recomendações da CGM ao fazer novo edital.

Sob suspeita. Um item analisado teve 600% mais horas de atendimentos que o previsto Foto: Rafael Arbex/Estadão

O "jogo de planilhas" apontado no relatório consiste em baratear parte dos itens que compõem o custo de um contrato, de forma a vencer a licitação. Mas, na hora de prestar o serviço, os itens com preços mais elevados são utilizados mais vezes do que o previsto. No fim das contas, a empresa acaba recebendo mais, tornando o contrato mais caro do que era o dos concorrentes.

Segundo a Nota Técnica 0007/2014 da CGM, a qual o

Estado

teve acesso, foi isso o que aconteceu no contrato firmado em maio de 2011, na gestão Kassab, com a empresa Call Tecnologia. Ela venceu a licitação para operar o 156 apresentando proposta de R$ 8,9 milhões.

Exemplo.

Dos seis itens de serviço previstos no contrato, segundo a nota da CGM, dois tiveram maior uso do que o estimado. Um deles teve 250% mais horas de atendimentos que o previsto; outro, 600% mais. Os demais foram todos subutilizados, não ultrapassando 65% da estimativa prevista na licitação original.

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Esses itens mais usados foram justamente aqueles que a Call Tecnologia apresentou com preços mais caros que os dos concorrentes. Mais grave, ainda segundo o relatório, foi o fato de que não houve comprovação de que todas essas horas extras de atendimento foram de fato feitas. Não existe "comprovação da destinação dessas horas de suporte", diz o texto.

Criada por Haddad, a CGM afirma na nota que os vícios do contrato vinham da licitação da gestão passada, mas destaca que o governo atual renovou esse contrato "com os mesmos quantitativos previstos no edital, que apresentavam

(e continuam apresentando)

grandes divergências em relação ao realmente utilizado pela administração", segundo a nota.

O serviço mais subestimado é chamado "Horas de serviço de suporte tecnológico à operação". A previsão na licitação era de 1.280 horas de atendimento mensais desse item. Já em 2014, durante a gestão Haddad, a Prefeitura pegou por 10,8 mil horas de atendimento não comprovados - a previsão de custos saltou de R$ 190 mil para R$ 1,7 milhão.

O parecer da CGM foi feito a pedido da própria Prefeitura. A nota recomenda que a gestão Haddad faça uma nova licitação para o serviço e limite-se a usar apenas a quantidade de horas previstas na licitação.

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Suspeitas iniciais.

As primeiras suspeitas contra o serviço 156 começaram na Câmara Municipal, que abriu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no começo do ano para apurar o contrato. Segundo o autor do requerimento para abertura da CPI, Adilson Amadeu (PTB), as suspeitas vieram por "denúncias anônimas". A CPI teve também forte atuação de Abou Anni (PV) e Eduardo Tuma (PSDB).

A CPI ainda não ouviu o proprietário da Call Tecnologia. Segundo Amadeu, ela é do empresário José Celso Gontijo - pesquisa na Junta Comercial aponta a empresa como sendo de outras pessoas jurídicas e duas pessoas físicas. Gontijo foi flagrado, em 2009, entregando dinheiro para Durval Barbosa, um dos operadores do chamado mensalão do DEM, partido ao qual Kassab pertencia antes de criar o PSD, em 2011.

A reportagem procurou a Call Tecnologia na tarde de sexta-feira, 12, em telefones de São Paulo e Brasília. Ninguém da empresa foi localizado.

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