Combate a cheias opõe Doria e Haddad

Assessor do prefeito eleito critica zeladoria urbana e petista responde que é ‘preciso sentar na cadeira para entender melhor a cidade’

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Por e Luiz Fernando Toledo
Atualização:
Haddad e Doria, em recente encontro na Prefeitura. Foto: Sergio Castro/ Estadão Foto:

SÃO PAULO - Quatro dias antes da cerimônia de transmissão de cargo de prefeito da cidade, a equipe de João Doria (PSDB) fez ontem as mais duras críticas até o momento contra a administração do prefeito Fernando Haddad (PT). O petista respondeu que era preciso “sentar na cadeira para entender melhor a cidade”. As alfinetadas mútuas aconteceram num dia em que tanto a nova quanto a atual administração tiveram agendas públicas para falar do combate às enchentes. 

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A reclamação dos tucanos foi sobre suposto esvaziamento das equipes encarregadas dos serviços de zeladoria urbana, como a poda de árvores, limpeza de córregos e conservação de vias. As críticas foram feitas na presença de Doria, pelo futuro secretário adjunto das Prefeituras Regionais, Fabio Lepique, durante a apresentação de ações da gestão Doria para enfrentar as enchentes deste ano.

Lepique reclamou da “herança” recebida de Haddad. “Estamos herdando uma situação difícil. A zeladoria não vai bem”, disse, antes de apresentar uma relação com diversas ações que, segundo ele, tiveram redução de equipes. “A média histórica dos últimos cinco anos era de 20 mil toneladas de asfalto por ano (usado no recapeamento). Agora é de 8,6 mil. Eram 800 funcionários empregados, agora são 350. Na conservação de áreas verdes e poda de mato eram cem equipes. Agora, são 35. Eram 1,2 mil pessoas, agora são 420. Na remoção de árvores eram 90 equipes, agora são 40”, disse o secretário adjunto, citando como fonte dos dados as empresas prestadoras dos serviços. Ele disse que vai confirmá-los quando assumir.

Em resposta à acusação de esvaziamento da zeladoria, Haddad afirmou que “às vezes, a pessoa tem de sentar na cadeira para entender melhor a cidade. De fora, às vezes, é mais fácil falar”. De acordo com Haddad, “teve muita tecnologia incorporada” aos serviços, o que contribuiu para a diminuição da mão de obra empregada. Ele citou o caso da limpeza de galerias fluviais. “Temos equipamentos hoje de desobstrução de ramais que não tínhamos. Caminhão hoje que desobstrui um ramal em minutos e que foi minha gestão que trouxe.”

Segundo o prefeito, no caso das podas de árvores, “foi feito convênio com a Eletropaulo que não existia”. “Nós impusemos à Eletropaulo que assumisse uma parte das podas. Só a capacidade da Eletropaulo é a mesma que São Paulo tinha quatro anos atrás. Se não levar em consideração isso, fica fácil criticar.”

Ao mesmo tempo em que criticavam a redução de equipes na zeladoria, Lepique e Doria reafirmaram que farão um corte de 15% no valor dos contratos de prestadores de serviço da Prefeitura. Segundo eles, a medida não prejudicará os serviços. “Num bom entendimento com as empresas que fazem a prestação de serviço ficou claro que não haverá redução e muito menos interrupção de serviços. Ao contrário, vai haver aumento de eficiência com ação integrada com o governo do Estado, ação contínua da Prefeitura e revisão de sistemas”, disse Doria. 

Comum. O cientista social Ricardo Gaspar, organizador do curso de Economia Urbana e Gestão Pública da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, diz que “é comum que políticos recém-eleitos, ainda em fim de campanha e começo de mandato, façam promessas de corte de gastos e ajustes, mas essas ações sempre são pouco eficazes”. Ele afirma que a experiência mostra ser difícil uma redução de valores ser acompanhada pelo aumento de equipes, mas destacou que a Prefeitura tem um setor administrativo “pesado” e “sucateado”, que pode ser melhorado.

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Reciclagem de ideias. O prefeito eleito João Doria (PSDB) anunciou ontem plano para enfrentar as chuvas de verão com ideias recicladas de antecessores e aliados. De novidade, inclui o uso de antigas estruturas de integração herdadas da Copa do Mundo para monitorar áreas críticas da cidade nos dias de iminência de tempestades mais severas. 

O Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR) fica no Bom Retiro, na frente do quartel do 2.º Batalhão de Choque da Polícia Militar e é comandado pela PM. O espaço foi cedido pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), padrinho político do prefeito Doria, para que ele abrigasse as equipes que vão trabalhar no monitoramento da cidade. “São 13 agências que ficarão aqui”, disse o prefeito eleito. 

Entre as medidas anunciadas para evitar alagamentos, a equipe de Doria informou estudar mudanças no horário da coleta de lixo da rua, para que os caminhões comecem a passar antes do horário das chuvas. O lixo da varrição de ruas, feita por duas empresas contratadas da Prefeitura, também teria a coleta antecipada. E o aterro sanitário da capital, que fica na zona leste, passaria a abrir também nos fins de semana para receber o material inerte recolhido pelos caminhões. 

“São todas medidas em estudo, algumas vindas de propostas das empresas do setor”, disse o futuro secretário adjunto de Coordenação das Prefeituras Regionais, Fabio Lepique. A mudança no horário em que o lixo doméstico é retirado das ruas foi uma estratégia adotada em 2010 pela gestão Gilberto Kassab (PSD), que passou a publicar detalhes da operação nos logradouros da cidade na internet.

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Outra ação anunciada pela equipe de Doria é a construção de 20 piscinões. “Eles já estão com os projetos prontos”, disse o futuro secretário de Serviços, Marcos Penido. Esses piscinões foram planejados pela atual gestão, de Fernando Haddad (PT). Parte deles já está até licitada – não foram feitos porque os recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal não saíram. A diferença, segundo a equipe de Doria, é que o novo prefeito buscará fontes alternativas de crédito. Citou o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), gerenciado pela Caixa. 

Outra ação destacada pelo prefeito eleito é a construção de um pôlder e instalação de bombas para aliviar as enchentes no Jardim Pantanal, na zona leste. O projeto é do governo do Estado, que investe R$ 41 milhões na região desde 2012, por meio do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE).