Com Doria, GCM reduz ação comunitária e amplia fiscalização de pichador e camelô

Administração. Crescimento das apreensões de mercadorias de ambulantes ou em ‘rolezinhos’ foi de 399% em janeiro e fevereiro. Ao mesmo tempo, ações para crianças e de atendimento a moradores de rua e usuários de droga caíram 96% e 84% no mesmo período

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Por Marcelo Godoy
3 min de leitura

A Guarda Civil Metropolitana (GCM) reduziu as ações comunitárias e aumentou as ações contra camelôs e pichadores no começo do governo de João Doria (PSDB). Dados obtidos peloEstado, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), mostram que o crescimento das apreensões de mercadorias de camelôs ou em “rolezinhos” foi de 399% em janeiro e fevereiro. Ao mesmo tempo, o Criança Sob Nossa Guarda e Programa de Pessoas em Situação de Vulnerabilidade caíram 96% e 84% no período, em comparação com o mesmo período de 2016.

A Secretaria de Segurança Urbana informou que a redução das ações comunitárias é causada por férias escolares – as aulas começaram em 6 de fevereiro – e reformulação da atuação da Prefeitura na região da Cracolândia, “tendo em vista que o novo projeto chamado Redenção terá atuação de 44 órgãos e atingirá todas as esferas: municipal, estadual e federal”.

Criado em 2002, o Criança Sob Nossa Guarda é um programa de atividades recreativas, esportivas e culturais em que os guardas apresentam às crianças temas como a prevenção de acidentes domésticos, educação ambiental e de trânsito, civismo e direitos humanos. Só 210 ações aconteceram em janeiro e em fevereiro – média de 105 por mês, ante média mensal de 2.832 em 2016 – 33.989 em todo o ano passado. Outro programa social da guarda, o Grupo de Prevenção a Álcool e Drogas (Gepad), teve um aumento médio mensal de 28% de atendimentos apesar das férias. Também não diminuíram as rondas escolares – segundo a secretaria, cresceram 50% no período.

Efetivo. A mudança da forma de atuação da Guarda afetou ainda a Inspetoria de Redução de Danos (IRD), que trabalha na Cracolândia. É ela a responsável pela maioria dos atendimento das chamadas “pessoas em situação de vulnerabilidade” – moradores de rua e usuários de crack. Contava com 278 agentes no dia 1.º de janeiro e passou a ter 158 no dia 4 de abril, uma redução de 43% no efetivo.

O efeito na região pode ser sentido pelo número de roubos e furtos registrados pela delegacia da área, o 3.º DP (Santa Ifigênia). Enquanto a capital relatou aumento de 3% nos roubos e 12,4% nos furtos em janeiro e em fevereiro na comparação com o ano passado, na região do 3.º DP o crescimento foi de 8,2% e 35,8%, respectivamente. A Polícia Militar informou que seu efetivo se manteve o mesmo na área. “Claro que nós, os moradores e comerciantes da região, sentimos a diminuição do efetivo da Guarda”, afirmou o comerciante Fábio Fortes, presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) de Santa Cecília. 

Criada em setembro de 2016, a IRD atuava em conjunto com o programa De Braços Abertos, da gestão Fernando Haddad (PT). Além da reestruturação da atuação da Prefeitura na área, a secretaria informou que a retirada de efetivo da região é parte de “ajustes que atendem a uma nova dinâmica operacional da atual gestão”.

Ao mesmo tempo, o comando da Guarda aumentou o efetivo das inspetorias da Paulista – de 119 para 164 guardas – e da Consolação – de 166 para 219. As duas, ao lado das Inspetorias da Sé e de Operações Especiais, foram responsáveis pela proteção de eventos como o carnaval e pelo aumento de apreensões de mercadorias de camelôs – incluindo ação do Programa Marginal Segura, para evitar ambulantes nas Marginais.

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O total de atendimentos feitos pela Guarda Civil no programa Guardiã Maria da Penha manteve-se estável em janeiro e fevereiro. Foram 2.076 visitas, um aumento na média mensal de 2,4%.

Além de aprender mercadorias, outra nova atividade da Guarda é a vigilância de monumentos, como o em comemoração à imigração japonesa, feita por Tomie Ohtake na Avenida 23 de Maio. O objetivo ali é impedir a ação de pichadores. 

Pressão. Ambulantes e artesãos que trabalham na região da Avenida Paulista relatam “mais pressão” de fiscais, PMs e guardas civis na nova gestão. “No ano passado, a fiscalização afrouxou e o número de ambulantes irregulares aumentou muito”, disse o artesão Wanderley Pires, de 48 anos. “E querem apreender até o que não devem. Outro dia tive de discutir com um fiscal porque ele dizia que ‘pulseirinha não é arte’. Trabalho com isso há 30 anos!”

Há ainda maior rigor na fiscalização da regra criada na gestão de Fernando Haddad (PT) para a Paulista – que estabeleceu 50 vagas a vendedores de artesanato registrados. Isso elevou as apreensões, na opinião dos ambulantes. “Nos últimos meses, a GCM e a PM apertaram em cima de quem não tinha autorização”, comenta Lídia de Jesus, de 54 anos, que vende tiaras perto do Parque Trianon. 

/ COLABOROU VITOR HUGO BRANDALISE

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