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Com Copa do Povo vazia, MTST ainda faz cadastro

Centenas de famílias, algumas de bairros distantes, buscam indicação de sem-teto; Prefeitura diz que fila será respeitada

Por Diego Zanchetta
Atualização:

SÃO PAULO - A 24 horas do término do prazo para cumprir a determinação judicial que obriga a desocupação do terreno onde foi erguida a ocupação Copa do Povo, em Itaquera, na zona leste de São Paulo, as 3 mil famílias que mantêm barracos numerados e com nomes não estão mais no local “há pelo menos dois meses”, segundo relatos de militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) que fazem a vigilância do espaço. 

Nos últimos dois dias, porém, centenas de pessoas estão voltando ao local, muitas de bairros a mais de 40 km da ocupação. O objetivo é fazer um cadastro que poderá garantir no futura a casa própria.

Ocupação fantasma. Barracos só têm cordas, nº e nome Foto: Felipe Rau/Estadão

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Quem fizer o cadastro poderá ser indicado pelo MTST à Prefeitura para ser beneficiado com as moradias que serão construídas no terreno, segundo dizem os líderes às famílias. A gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) garante que a fila de atendimento habitacional será respeitada e somente moradores da região leste poderão ser atendidos. 

Mas, na lei sancionada por Haddad e aprovada pela Câmara Municipal em julho, viabilizando a construção de conjuntos do Programa Minha Casa Minha Vida no terreno, existe uma brecha que permite aos sem-teto a indicação de um cadastro ao governo de possíveis beneficiários. Mas a Prefeitura garante que os indicados de fora da fila da Cohab serão excluídos de qualquer programa.

Hoje a ocupação tem ares de cidade fantasma. Nenhum barraco tem morador dentro. Quase todos estão cercados por cordas e numerados, com o nome de uma família (algumas possuem até quatro barracos). Suely Tomaz, que antes chefiava a cozinha comunitária da ocupação, afirmou ao Estado que “muita gente montou barraco nos últimos dias”, para tentar fazer o cadastro do MTST de última hora. 

Um posto de cadastro foi montado pelos líderes sem-teto na entrada da ocupação. As famílias fazem o cadastro, pegam o que ainda estava dentro do barraco e voltam para suas moradias. No dia 4 de julho, o MTST e seus coordenadores firmaram um acordo com o juiz Celso Maziteli Neto, da 3.ª Vara Cível de Itaquera, para deixarem o terreno da construtora Viver em 45 dias. Mas, nessa altura, a grande maioria das famílias já havia deixado no local apenas barracos numerados e com os nomes na entrada.

Projeção. Localizada a 4 quilômetros do estádio do Corinthians, onde foi a abertura da Copa do Mundo, a ocupação ganhou projeção internacional no fim de maio. Em menos de 48 horas e às vésperas da abertura do Mundial, mais de 7 mil pessoas montaram barracos no terreno da Construtora Viver, localizado na Rua Malmequer do Campo, uma área quase rural no extremo leste. Para pressionar os governos municipal, estadual e federal a comprar o terreno e construir conjuntos habitacionais na área, o MTST fez uma série de protestos na cidade em junho e julho. 

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Com medo de manifestações durante a Copa na capital paulista, até a presidente Dilma Rousseff esteve com os líderes da ocupação e prometeu uma parceria com a Prefeitura para construir conjuntos do Minha Casa Minha Vida para as famílias que haviam ocupado o terreno. Depois o MTST levou 5 mil pessoas para um “acampamento” de uma semana na frente da Câmara Municipal, o que obrigou os vereadores a votarem um novo projeto de lei que viabilizasse a desapropriação da área particular. 

A vitória foi festejada pelo MTST, que encerrou a jornada de manifestações antes do início da Copa. 

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