Com apoio de petistas e tucanos, Milton Leite é eleito para presidir Câmara

Vereador, que teve apoio do novo prefeito João Doria, teve 50 votos entre 55 parlamentares; ele governará Casa por dois anos

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Por Fabio Leite
Atualização:

SÃO PAULO - Com apoio de petistas e tucanos, o vereador Milton Leite (DEM), de 60 anos, foi eleito neste domingo, 1, presidente da Câmara Municipal de São Paulo pelos próximos dois anos. Nome preferido do prefeito João Doria (PSDB), de quem foi cabo eleitoral na campanha, ele obteve 50 votos entre os 55 parlamentares e desbancou outros três candidatos, entre os quais Mario Covas Neto (PSDB), presidente municipal do partido de Doria. 

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Doze dias depois de votar a favor do projeto que aumentou em 26,3% o salário dos vereadores para este ano – o reajuste de R$ 15 mil para R$ 18,9 mil foi suspenso há uma semana por liminar da Justiça –, Leite assumiu o cargo prometendo redução de gastos da Câmara, que terá um orçamento de R$ 620 milhões neste ano, mas defendendo a legalidade do aumento salarial, do qual ele disse que vai abrir mão para dar exemplo aos demais vereadores.

“Eu respeito a opinião pública e já dei meu exemplo pessoal. Abri mão do meu direito de aumento e economizei mais de R$ 200 mil da verba que tinha direito em 2016”, disse o novo presidente, que disse ser obrigação da Procuradoria da Câmara recorrer na Justiça pela validade do reajuste e anunciou que fará um Plano de Demissão Voluntário (PDV) para enxugar a folha de pagamento do Legislativo. "Este Parlamento não tem poderes para não recorrer", completou.

"A decisão do plenário é soberana. Não há como não recorrer (da suspensão do aumento dos vereadores) porque é um preceito constitucional.”

O vereador Eduardo Suplicy (PT), mais votado na eleição, pediu para que ele reconsidere sobre a questão. “Eu pediria para que o próximo presidente consultasse as bancadas dos partidos antes de decidir recorrer da decisão judicial que suspendeu o reajuste.”

Com reduto eleitoral na zona sul, Leite é vereador desde a década de 1990 Foto: AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO

Além de Covas Neto, Milton Leite também derrotou as novatas Sâmia Bomfim (PSOL) e Janaína Lima (Novo). A eleição do democrata representa uma vitória parcial de Doria, que sabia do desejo dele de comandar a Câmara e preferiu não correr o risco de ver um candidato tucano derrotado com seu apoio e ganhar a antipatia do presidente do Legislativo, de quem o novo prefeito dependerá para conseguir aprovar algumas de suas principais promessas de campanha, como as privatizações de equipamentos públicos. 

“O governo, em algum momento, começou a trabalhar fortemente pela candidatura Milton Leite. A votação foi reflexo disso”, disse Covas Neto, que teve apenas o próprio voto. “Acho que cometemos dois enganos: não respeitar a regra de proporcionalidade da Casa (o PSDB elegeu a maior bancada) e o segundo de não entender o recado que as urnas estão mandando para gente. Ou seja, os conluios, as combinações de bastidores, aquelas coisas mal explicadas que estão sendo rechaçadas pela população.” 

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Trajetória. Em seu sexto mandato consecutivo, Leite foi o segundo vereador mais votado nas eleições de outubro, com 107.957 votos, atrás apenas do petista Eduardo Suplicy, que foi eleito com 301 mil votos. Com uma reconhecida habilidade para articular nos bastidores, Leite é o último expoente na Casa do chamado “Centrão”, grupo que surgiu em 2005 na eleição que desbancou o candidato do então prefeito José Serra (PSDB) para presidir a Câmara.

Em 2010, o democrata tentou ocupar o cargo máximo do Legislativo, mas perdeu a disputa para José Police Neto (PSD), à época no PSDB. Pesou contra ele o fato de o adversário ter tido apoio do então prefeito Gilberto Kassab (PSD). Segundo aliados do democrata, ele aprendeu muito com aquela derrota até conseguir vencer neste domingo. Vinte minutos antes do início da sessão que elegeria no novo presidente, Leite ainda visitava alguns gabinetes em busca de voto. “Ainda estou em campanha”, disse. 

Mesa. O amplo acordo por sua eleição envolveu a escolha do tucano Eduardo Tuma para ser 1.º vice-presidente e do petista Arselino Tatto, ex-líder da gestão Fernando Haddad (PT), para ser o primeiro secretário da Casa. Leite garantiu importantes votos para Doria na periferia da zona sul, seu reduto eleitoral, mas agora promete independência do Executivo.