Clínica para dependentes químicos é interditada por maus-tratos em Itu

Local, com 58 internos, funcionava sem alvará da prefeitura e tinha menores misturados com adultos

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA - Uma clínica para recuperação de dependentes químicos foi interditada pela Vigilância Sanitária, após denúncias de violência e maus-tratos contra os internos, nesta quarta-feira (22), em Itu, interior de São Paulo.

A clínica funcionava há três meses numa chácara alugada, na zona rural de Itu Foto: Reprodução Google street view

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O local, com 58 internos, funcionava sem alvará da prefeitura e tinha menores misturados com adultos.

A fiscalização encontrou 17 adolescentes escondidos numa mata, atrás da clínica. Resgatados por guardas municipais, eles disseram que o próprio dono da clínica mandou que se escondessem quando chegaram os fiscais. O dono, Ronaldo Robson Pereira dos Santos, que mantinha o local em sociedade com sua mulher, Paloma Souza Santos, foi detido e levado ao 4.o Distrito Policial de Itu. Ele foi liberado após prestar depoimento.

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A clínica 'Recomeçar e Viver' funcionava há três meses numa chácara alugada, no bairro Potribu, zona rural do município, e cobrava até R$ 1,2 mil mensais por paciente. Equipes da Vigilância foram ao local, acompanhadas pela Guarda Municipal, após denúncias recebidas pelo Ministério Público de que os pacientes eram submetidos a maus-tratos. A fiscalização encontrou dependentes confinados em quartos sujos, com as janelas trancadas, e alimentação armazenada de forma irregular. Havia ainda uso irregular de medicamentos e indícios de cárcere privado.

Não havia licença sanitária e os menores ocupavam o mesmo espaço que os adultos. “A situação era totalmente irregular e tivemos de fazer a interdição imediata, retirando os pacientes de lá”, disse André Ariza, coordenador da Vigilância Sanitária de Itu. A Polícia Civil abriu inquérito para apurar os ilícitos apontados pela fiscalização.

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Cinco adultos e nove adolescentes figuram como vítimas dos maus-tratos. Uma paciente confirmou ter sofrido agressões, como tapas na cara e pauladas na cabeça. Ela mostrou marcas no corpo que teriam sido feitas por pontas de cigarro aceso. A vítima não apontou quem era o agressor.

De acordo com o delegado José Moreira Barbosa Netto, a autoria será apurada no curso do inquérito. Dois pacientes que tinham ferimentos visíveis e relataram agressões foram encaminhados para exames no Instituto Médico Legal (IML). Ele mandou fazer uma perícia na clínica e aguarda o laudo da vistoria.

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Santos não constituiu advogado ao ser ouvido na Polícia Civil. O telefone de contato que forneceu à polícia estava impossibilitado de receber chamadas. Sua mulher fugiu da clínica quando a fiscalização chegou e não foi encontrada. Segundo a polícia, se ela não se apresentar, será considerada foragida. Até a tarde dessa quinta-feira, 23, a Secretaria de Promoção e Assistência Social tinha devolvido 42 pacientes aos familiares. Os parentes dos outros 16 não tinham sido localizados e eles continuavam sob os cuidados do município.

Abusos

O mestre de obras Adésio Hermano Guimarães, de 56 anos, afirma que sua filha de 29 anos relatou ter sofrido maus-tratos nos 28 dias em que esteve internada na clínica de Itu. “Por duas vezes os cuidadores quase afogaram ela numa piscina com água suja, cor de barro. Enfiaram a cabeça na água e seguraram.”

Guimarães diz ter pago R$ 700 de entrada, com a promessa de que a jovem teria acompanhamento semanal por psicólogo e quatro refeições por dia. “Ela comia salsicha com arroz e emagreceu sete quilos. Eu mandava alimentos para ela, mas eles desviavam”, disse.

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Ele afirma ter ouvido da filha uma denúncia que considerou “uma coisa nojenta” e pede à polícia que investigue. “O que ela me contou é que os remédios que comprei para ela, e que paguei R$ 100, mas não me lembro o nome, eram dados para outras moças. Elas ficavam dopadas e eles se aproveitavam delas, faziam coisas que eu considero estupro.”

Morador da capital, o mestre de obras quer que as denúncias sejam investigadas. O delegado de Itu informou que as vítimas serão ouvidas no inquérito e que todas as denúncias serão apuradas.

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