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Comandante da Guarda Civil desaprova Ibirapuera aberto depois das 22 horas

Responsável pela segurança da área alega concentração de ‘homossexuais, skatistas e jovens’; relatório será base de reunião do conselho gestor, que volta a discutir funcionamento

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Por Adriana Ferraz
Atualização:
Relatório considera primordial, do ponto de vista da segurança, definir novas regras para abertura e fechamento do parque Foto: Rafael Arbex / Estadão

Relatório produzido pela chefia da Guarda Civil Metropolitana (GCM) desaprova o funcionamento do Parque do Ibirapuera após as 22 horas e o horário estendido de fim de semana, definidos em 2013. O texto justifica a mudança pelo suposto perfil do público após esse horário: “Homossexuais, skatistas e jovens com problemas relacionados ao uso de bebidas”. O Conselho Gestor do Parque do Ibirapuera votaria nesta quarta-feira, 9, a continuidade dessa política, mas a reunião teve de ser adiada. A manutenção cabe à Prefeitura.

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Em 2013, quando o prefeito Fernando Haddad (PT) lançou o projeto, o conselho gestor já foi contrário à abertura 24 horas. A tendência é que a posição se mantenha. Parte dos conselheiros defende que a decisão seja tomada em conjunto com a administração municipal.

Assinado pelo comandante da GCM Rubens Aparecido da Silva, responsável pela cobertura da área, o relatório que seria analisado nesta quarta considera primordial, do ponto de vista da segurança, definir novas regras para abertura e fechamento. Segundo Silva, seria “salutar” fechar o parque às 22 horas, independentemente do dia. Hoje, os portões têm horários variados. Durante a semana, quatro deles permitem entrada a partir das 5 horas e saída à meia-noite - maior período disponível. Só de sábado para domingo é que há circulação 24 horas.

No relatório, a GCM classifica como “ameaças” ao parque a concentração de minorias (sem especificar quais), de flanelinhas, comerciantes irregulares e o registro de rolezinhos no local. O documento também aponta como áreas de risco para ocorrência de roubos, furtos e consumo de entorpecentes a marquise, as quadras, a passarela Ciccillo Matarazzo e o espaço conhecido por “bambuzal”.

TV, lombada e DP. Além do fechamento antecipado, o comandante cita outras ações importantes para garantir a segurança dos usuários, como a criação de um circuito fechado de TV sob o comando compartilhado entre guardas-civis e seguranças privados; o investimento em um programa educativo para uso de bicicletas; a instalação de lombadas e redutores de velocidade; a ampliação da iluminação em alguns pontos e a implementação de uma delegacia descentralizada e itinerante.

“A verdade é que esse projeto de abrir de madrugada nunca deveria ter sido aprovado. Quem frequenta o parque a essa hora é para consumir bebida e drogas apenas”, diz o engenheiro Otávio Villares de Freitas, presidente do conselho da Associação de Moradores e Amigos do Jardim Lusitânia (Sojal).

Segundo o conselheiro Bill Santos, representante da comunidade LGBT no órgão, a maioria dos representantes do conselho quer limitar o uso do espaço para as pessoas mais carentes. “O que eles querem é fechar o parque para os pobres, os negros, os gays e os moradores da periferia”, reclama.

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O organizador de eventos e um dos “criadores” dos rolezinhos, Darlan Mendes, também prevê prejuízo à população mais pobre e carente de opções culturais. “Quem fica nesse horário é o pessoal do skate, a molecada que não tem o que fazer, que vai para curtir um som, trocar uma ideia.” Para ele, há “má administração” e falta de policiamento. “Como pode um parque desse porte ter só 20 e poucos seguranças?”

A gestão Haddad informou que vai avaliar a decisão do conselho, mas ressaltou que o grupo é consultivo. A Prefeitura também afirmou que a posição do comandante Rubens da Silva não reflete as diretrizes da Secretaria de Segurança Urbana. Já a equipe do prefeito eleito João Doria (PSDB) disse que o assunto será avaliado na análise do novo modelo para o parque.

Para o ex-secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, vereador Ricardo Teixeira (PROS), voltar ao horário antigo seria um retrocesso. “Há registro de algum caso de violência? Não que eu saiba”, diz. / COLABOROU LUIZ FERNANDO TOLEDO