Chaguinhas, o 'santo' da Liberdade

Morto em 1821, soldado ficou com fama de milagreiro

PUBLICIDADE

Por Gustavo Zucchi
Atualização:

Não reconhecido como santo pela Igreja Católica, Francisco José das Chagas tem fama de milagreiro e com ela atrai fiéis para o bairro da Liberdade. Duas das igrejas da região, a Capela dos Aflitos e a Igreja Nossa Senhora dos Enforcados, estão ligadas à história do ex-tenente do exército brasileiro, morto no século XIX. Ao entrar nos edifícios, não é difícil ver placas de agradecimento a Chaguinhas, como ficou conhecido, por uma graça alcançada.  Conta-se que, em 1821, ele e outro militar se insurgiram contra o comando do batalhão por causa de salários atrasados. Sufocada a rebelião, Chaguinhas teria assumido a culpa e livrado outros companheiros da forca – naquela época, existia pena de morte por enforcamento em praça pública na cidade. No dia da execução, a corda que deveria tirar a vida do soldado rompeu três vezes. A multidão interpretou o ocorrido como sendo uma "mensagem divina" e começou a pedir por sua liberdade. Conta-se mais de um desfecho para o que veio depois. Em um deles, Chaguinhas teria sido estrangulado pelo carrasco com uma tira de couro. Em outro, foi espancado até a morte.  Na Capela dos Aflitos (que ficava no cemitério com o mesmo nome, desativado em 1858), existe uma porta que daria para o quarto em que o soldado teria ficado preso antes da execução. Há o costume de bater três vezes nela, chamar por Chaguinhas e fazer um pedido. No mesmo lugar, flores são depositadas com frequência em homenagem ao "santo".

Chaguinhas estaria enterrado nas proximidades da capela dos Aflitos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

"Pelo que ele sofreu, como foi tratado, tem índole boa", diz Rosa Maria Jaques. Ao lado do marido, João Tocchetto, ela é “investigadora paranormal”, uma espécie de "caça-fantasmas". Eles estudaram a capela e confiam nos milagres atribuídos a Chaguinhas. Outros nomes. O santo popular da Liberdade faz parte de uma longa lista de nomes não reconhecidos pela Igreja Católica, mas venerados no Brasil. Estão entre os mais famosos o Padre Cícero, que reúne uma grande quantidade de fiéis na região nordeste, e as chamadas treze almas de vítimas do incêndio ocorrido em 1974 no edifício Joelma.  O processo de canonização do Vaticano é rigoroso e tem várias etapas. Em uma delas, o milagre, sem explicação científica, precisa ser analisado por juntas médicas e tem de ser confirmado. Na relação de santos brasileiros que passaram pelo processo estão o Frei Galvão e a Santa Paulina, ambos em São Paulo. "A Igreja Católica dá o nome de santo, mas o que o faz santo é tudo o que ele passou e sua índole. Ele [Chaguinhas] se tornou um santo, um de verdade", defende Rosa. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.