Cerca de 250 mil ficam mais de 48 horas sem luz em São Paulo

Zonas sul e oeste são as mais atingidas; empresa culpa queda de árvores após temporal na segunda-feira

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Por Felipe Resk
Atualização:
Quarteirões ficam sem luz na Praça da Árvore após temporal Foto: Tiago Queiroz/Estadão

SÃO PAULO - Cerca de 250 mil pessoas continuam sem luz em São Paulo, há mais de 48 horas, de acordo com a AES Eletropaulo. Segundo a companhia, parte dos casos é referente ao temporal que atingiu a capital paulista na segunda-feira e deixou 800 mil imóveis sem energia. 

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A companhia afirmou que as equipes que trabalham no restabelecimento da energia estão concentradas nas zonas sul e oeste da capital, e em municípios como Cotia, São Lourenço da Serra, Embu das Artes e Itapevi, na Grande São Paulo.

Em Moema, na zona sul, um quarteirão da Avenida Iraí estava às escuras. Com o lado esquerdo do corpo paralisado por um acidente vascular cerebral (AVC), a aposentada Aida Fiori, de 92 anos, tem passado os dias da cama para o sofá e do sofá para a cama. “Estamos sem luz e sem água. Não tem nada pior."

Por causa da falta de energia, a bomba do prédio onde mora parou de impulsionar água para os apartamentos. “Há dois dias não consigo dar banho nela”, conta Clarinete Colaerello, que cuida da aposentada. Sem gerador, os elevadores também pararam de funcionar, o que obriga Aida, cadeirante, a ficar ilhada no 9.º andar.

Moradora do mesmo edifício, a aposentada Vanda Certalic, de 50 anos, está sem dormir. “Ligo para a Eletropaulo a cada duas horas e ninguém vem resolver”, diz. Sem água para cozinhar, Vanda tem descido escadas e almoçado na padaria. 

Em um prédio comercial, do outro lado da rua, a situação é semelhante. Sócios de uma empresa de projetos de engenharia, Marcelo Pretti, de 37 anos, e Paulo Rocha, de 43, não conseguem calcular o prejuízo. “A gente trabalha com prazos e vai ter de indenizar os clientes pelo atraso. Sem luz, ninguém trabalha”, afirma Rocha. Outro custo que a empresa vai ter de arcar é das horas “trabalhadas” de 20 funcionários. “Ontem (terça-feira), até dispensamos o pessoal”, diz Pretti.

Os moradores do Jardim Represa, na zona sul, passaram mais de 40 horas sem energia. Na Rua Menino Jesus de Praga, o fornecimento caiu na tarde da segunda, por volta das 16h50, e só voltou às 9h15 desta quarta. Sem ter onde armazenar alimentos, o economista Paulo Gonçalves, de 58 anos, precisou jogar legumes e carnes no lixo. “Quando chove, sempre cai a energia, mas igual a essa última vez nunca tinha acontecido.”

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Em uma conta de energia, o economista anotou todos os protocolos de reclamações para a Eletropaulo. No total, 11 chamados abertos. “Só consegui falar uma vez com uma pessoa, o restante só com mensagem gravada.” Em meio à escuridão, a família de cinco pessoas espalhou velas sobre os móveis e eletrodomésticos. Para se manter atualizado, sobrou apenas um radinho de pilha funcionando. “Sem energia, tudo piora. Até para cozinhar e tomar banho é ruim”, afirma.

O apagão também prejudicou o motorista Celso Andrade, de 51 anos, morador da mesma rua. Diabético, precisou descartar 13 caixas de insulina que, sem ter onde manter resfriadas, não poderão ser usadas. “Preciso tomar de três a quatro doses por dia, mas há horas que não tomo”, conta. Após fazer teste na tarde desta quarta, o exame de glicemia apontou 192. “Meu limite é 120.”

Multa. O Procon multou nesta quarta a Eletropaulo em R$ 3.764.740 por demora no restabelecimento de energia no Hospital Municipal e Maternidade Amador Aguiar, em Osasco, na Grande São Paulo. O hospital ficou sem luz por mais de oito horas na segunda-feira passada. O Procon também analisa mais de mil reclamações recebidas desde 29 de dezembro.

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