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Censo inédito revela 32 mil peças 'perdidas' nos museus de São Paulo

Nos porões de 15 instituições há quase o dobro de itens imaginados; dados disponíveis eram de registros precários de 1982 e 1994

Por Vitor Hugo Brandalise
Atualização:

As estatuetas esquecidas no armário, o retrato dentro de um livro, a coleção de desenhos trancada numa pasta fechada. Após um censo inédito finalizado há dois meses em 15 museus de São Paulo, o governo estadual descobriu o que havia em seus porões: em vez de 48 mil peças, os museus de São Paulo guardam 80 mil, quase o dobro do que se imaginava. É a memória cultural do Estado, finalmente redescoberta.Entre as 32 mil peças "reveladas" - e pela primeira vez registradas pela Secretaria de Estado da Cultura -, há algumas surpresas. No Museu de Arte Sacra, na Luz, centro da capital, uma coleção de cerca de 700 "paulistinhas", primeiras imagens de santos feitas em série no Estado, foi mapeada. Agora, é possível saber qual santo está retratado, de onde veio e o período da produção da peça, a maioria do século 19. "Saber com exatidão o que há em um museu permite, por exemplo, criar exposições temáticas e itinerantes. Há mais opções para a instituição e os visitantes", disse o secretário de Cultura, Andrea Matarazzo.Outra coleção "redescoberta" - detalhada, peça a peça - na capital foi uma série de 142 desenhos do escritor Guilherme de Almeida, no museu que leva seu nome, no Sumaré, zona oeste. São imagens nunca publicadas da São Paulo do escritor: aquarelas do Pacaembu visto da varanda, dos cães pequineses que mantinha em casa, autocaricaturas e retratos da mulher. Antes registrado como "conjunto de desenhos", o material agora vai para uma exposição temporária, prevista para julho. "Renovou o interesse por seus desenhos", disse o diretor da Casa Guilherme de Almeida, Marcelo Tápias.O maior número de peças "perdidas" estava no interior: em dez museus, o número de itens conhecidos passou de 34.698 para 61.657 (77,6% a mais). Uma das descobertas ocorreu no Museu Conselheiro Rodrigues Alves, em Guaratinguetá, onde inusitadas fotografias de Alberto Henschel (1827-1882), o "fotógrafo da Casa Imperial", foram encontradas em um acervo basicamente provinciano. "Fotos de outros fotógrafos importantes, como de Valério Vieira, foram encontradas, o que trouxe outra configuração ao acervo", disse a museóloga Angélica Fabbri, uma das coordenadoras do censo.Os dados disponíveis eram de levantamentos precários de 1982 e 1994 - realizados apenas com fins administrativos, para garantir posse das peças. Além de descritos em detalhes, desta vez todos os itens foram fotografados e serão colocados em um banco de dados geral. Numa próxima fase do projeto, a promessa é abrir o banco de dados para pesquisa do público em geral.

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