Carro com criança e sem cigarro

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Por JAIRO BOUER
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Na última semana, a Inglaterra aprovou uma lei que proíbe uso do cigarro dentro de carros com crianças. A medida vale a partir de outubro e tenta proteger os mais novos dos efeitos nocivos do fumo passivo. Segundo reportagens publicadas nos sites da BBC Brasil e da CNN, cerca de 3 milhões de crianças são expostas à fumaça de cigarro nos veículos particulares daquele país. A nova lei não veta que motoristas fumem ao volante quando estão sozinhos ou com outros adultos, apenas quando estão acompanhados por menores de 18 anos. A multa prevista é de cerca de R$ 200. Segundo a Fundação Britânica do Pulmão, as substâncias tóxicas da fumaça do cigarro ficam mais concentradas em espaços confinados e pequenos, como o interior de um carro. Além disso, as crianças estariam sob maior risco por terem pulmões menores, um sistema imunológico ainda em desenvolvimento e respirarem mais rápido. Legislações semelhantes já existem no País de Gales, Bahrein, África do Sul e em partes da Austrália, EUA e Canadá. Outros países estudam a medida. Além de proteger a saúde das crianças, a lei pode diminuir, também, o apelo que o cigarro tem entre os mais jovens ao dissociar um hábito como conduzir um veículo ao ato de fumar. Nesse sentido, mais uma medida que está sendo discutida na Inglaterra, que obriga os fabricantes de cigarro a produzir maços genéricos (sem marcas, cores chamativas e logos), também deve ser aprovada em breve. Segundo o Ministério da Saúde da Inglaterra, 200 mil crianças começam a fumar a cada ano no país. Mais doenças. Outro artigo da última semana, do jornal The New York Times, traz um novo estudo recentemente publicado no periódico The New England Journal of Medicine, que associa o cigarro a cinco novas doenças e mais 60 mil mortes por ano nos EUA. Antes da pesquisa, já eram 500 mil mortes por ano causadas por 21 tipos de doenças (incluindo 12 tipos de câncer). O trabalho, financiando pela Sociedade Americana do Câncer, analisou dados de quase um milhão de americanos, acompanhados por 10 anos, e evidenciou a relação do fumo com o risco maior de morte por infecções, problemas renais e doenças intestinais causadas por fluxo insuficiente de sangue. Segundo os Centros de Controle de Doença dos EUA (CDC), 42 milhões de americanos ainda fumam (15% das mulheres e 21% dos homens). Em média, fumantes morrem uma década antes dos não fumantes e têm uma chance 20 vezes maior de morrer por um câncer de pulmão. As novas doenças associadas ao cigarro foram identificadas após a análise dos dados de mortalidade de fumantes e de não fumantes em cinco centros de pesquisa americanos. Das mortes de fumantes, 83% estavam associadas às doenças classicamente atribuídas ao cigarro. Ao analisar os outros 17%, os pesquisadores encontraram riscos muito maiores de novas doenças. O cigarro provoca impacto no sistema imunológico e na irrigação sanguínea, o que se traduz em maior risco de infecções e problemas em diversos órgãos, como rins e intestino. Eletrônico em xeque. Mais duas notícias mostram que o cigarro eletrônico, considerado por muitos uma alternativa mais saudável ao convencional ou, ainda, um passo para quem quer parar de fumar, pode ter benefícios bem mais limitados do que se imaginava. O primeiro trabalho da Universidade de Portland (Oregon, nos EUA), revelado pela agência de notícias AFP, mostra que eles podem trazer um risco de 5 a 15 vezes maior de câncer do que o cigarro comum, em função da produção elevada do formaldeído no vapor, conhecido agente cancerígeno. O outro estudo, da Universidade de Rochester, também nos EUA, publicado no jornal científico PLoS ONE, mostra que os sabores presentes em muitos cigarros eletrônicos poderiam elevar a toxicidade do vapor para o tecido pulmonar. As autoridades de saúde já questionam se os cigarros eletrônicos não deveriam estar sujeitos às mesmas restrições que o tabaco até que seus riscos estejam mais esclarecidos. *É PSIQUIATRA

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