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Carnavalesco morre, aos 78 anos, no MA

Nascido em São Luís, João Clemente Jorge Trinta fez carreira e sucesso em escolas de samba no Rio e deve ser homenageado no desfile da Beija-Flor do ano que vem

Por SERGIO TORRES e RIO
Atualização:

MemóriaPrecursor da modernização do desfile das escolas de samba do Rio, o carnavalesco Joãosinho Trinta morreu ontem de manhã, aos 78 anos, no Hospital UDI, em São Luís, sua cidade natal. A morte foi provocada por choque séptico, pneumonia e infecção urinária.Nascido João Clemente Jorge Trinta em 23 de novembro de 1933, ele mudou para o Rio em 1951, aos 18 anos, onde primeiro trabalhou como escriturário e depois foi bailarino. Chegou a integrar o quadro de funcionários do Teatro Municipal do Rio. Só 11 anos depois passou a atuar no carnaval, na escola de samba Acadêmicos do Salgueiro. Integrava a equipe dos carnavalescos Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, famosa por enredos clássicos da história do samba carioca, como Xica da Silva, de 1963. Joãosinho Trinta era o responsável pelos adereços. Após a saída de Pamplona e Rodrigues da escola, ele assumiu em 1973 a função de carnavalesco. A escola ficou em terceiro lugar, com o enredo Eneida, Amor e Fantasia.A consagração de Joãosinho começou no ano seguinte, quando o Salgueiro se tornou campeão com o enredo O Rei de França na Ilha da Assombração. Foi o início de uma sequência de cinco títulos consecutivos até 1978. As outras conquistas foram O Segredo das Minas do Rei Salomão, mais uma vez pelo Salgueiro, e Sonhar com Rei dá Leão, Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egipciana, A Criação do Mundo e Segundo a Tradição Nagô, todos pela Beija-Flor, escola de Nilópolis, cidade na Baixada Fluminense, que jamais havia vencido um carnaval.O luxo da escola, até então muito longe da linha de frente das agremiações tradicionais, surpreendeu. Joãosinho Trinta foi criticado por puristas, que o acusavam de desvirtuar a apresentação das escolas, privilegiando ostentação, em detrimento de tradições carnavalescas. É dessa época sua frase famosa: "O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual".O período foi o auge de Joãosinho Trinta. A partir daí, os títulos escassearam. Ele ainda foi campeão em 1980 e 1983 pela Beija-Flor e em 1997 pela Viradouro, de Niterói, cidade vizinha ao Rio. Dirigiu ainda o carnaval da Acadêmicos da Rocinha, tornando-se campeão em 1989 no grupo 1-D e, no ano seguinte, no 1-C.Naquele ano, sofreu uma grande decepção, com a derrota do enredo Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia, pela Beija-Flor. Apesar do vice-campeonato, o desfile se tornou um clássico do carnaval, com a apresentação de passistas fantasiados de mendigos e uma imagem do Cristo Redentor coberta, por causa da censura da Igreja. Favorita, a escola perdeu para a Unidos de Vila Isabel. Homenagem. Amigo de Joãosinho Trinta há 49 anos, Laíla, diretor de Carnaval e Harmonia da Beija-Flor, disse, ao saber da morte, que o carnavalesco será homenageado no último carro da escola em 2012. O enredo será o Maranhão. "A homenagem já estava prevista, mas vamos decidir se faremos alguma alteração. João Trinta foi o grande precursor do carnaval moderno. Foi ele, no Salgueiro, o autor da grande mudança, de tirar destaques do chão, porque abriam muitos buracos na apresentação."Joãosinho Trinta estava no hospital desde o dia 3, respirando com ajuda de aparelhos. Na internação, médicos diagnosticaram pneumonia e obstrução intestinal. No primeiro semestre, o carnavalesco já havia passado 37 dias internado. Seu estado de saúde se complicou depois de 1996, quando um acidente vascular cerebral afetou fala e movimentos. Oito anos depois, um segundo derrame piorou o quadro. Nos últimos meses, ele só conseguia se comunicar por gestos. O corpo de Joãosinho Trinta deve ser enterrado às 10 horas de amanhã em São Luís, onde também será o velório. O local, porém, ainda não foi divulgado.

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