Cantareira tem melhor mês em 2 anos

Vazão no manancial chegou a 36,4 mil litros por segundo, três vezes maior do que em 2014; chuvas ficaram quase 50% acima da média

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Por Fabio Leite
Atualização:
Pesca na Represa Atibainha do Cantareira. Após 21 dias de altas consecutivas, manancial ficou estável em 11,1% Foto: EVELSON DE FREITAS/ESTADÂO

SÃO PAULO - Desde março de 2013, o manancial que abastece 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo não registrava volume tão favorável, com 36,4 mil litros por segundo, vazão três vezes maior do que em janeiro passado e fevereiro de 2014, que foi de 8,5 mil litros por segundo. O governo ainda vai esperar o fim do próximo mês para definir a necessidade de um rodízio oficial.

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O aumento da vazão foi provocado pela volta das chuvas na região dos rios e represas que formam o sistema. A pluviometria em fevereiro ficou 47,5% acima do esperado. Até esta sexta-feira, 27, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) registrava um saldo de 293,7 milímetros, ante uma média de 199,1 milímetros para o mês. Para autoridades estaduais e federais, os números indicam uma “quebra de tendência” de seca extrema no principal manancial paulista. 

Hidrólogos e meteorologistas, contudo, alertam que ainda é cedo para cravar uma mudança permanente no padrão climático. Previsão divulgada pelo Grupo de Trabalho em Previsão Climática Sazonal do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação aponta uma tendência de diminuição de chuva na Região Sudeste nos próximos três meses. A redução já ocorreu nos últimos dias de fevereiro. Nesta sexta, 27, o nível do Cantareira ficou estável pela primeira vez após 21 dias de altas consecutivas. O sistema está com 11,1%, considerando duas cotas do volume morto.

Avanço. Em um mês, o nível do Sistema Cantareira subiu 6,1 pontos porcentuais. Pela primeira vez desde abril de 2013 o sistema fecha o mês no azul, com saldo de 61,1 bilhões de litros, o que ajudou a recuperar a segunda cota do volume morto. Nesta sexta, pescadores já conseguiam tirar peixes da Represa Atibainha - o que alegavam ser difícil anteriormente.

O resultado, porém, só pôde ser alcançado por causa da redução significativa no volume de água retirado do sistema para atender a Grande São Paulo e mais 5 milhões de pessoas nas regiões de Campinas e Piracicaba. Só de janeiro para fevereiro, a queda na captação de água do Cantareira foi de 6 mil litros por segundo, volume equivalente ao que a Sabesp pretende produzir com o Sistema São Lourenço, em construção no Vale do Ribeira e com conclusão prevista para 2017. Em fevereiro, a retirada total do sistema chegou a 10,9 mil litros por segundo. Antes da crise declarada, no início de 2014, a retirada chegava a 33 mil litros por segundo. Entre os motivos que ajudaram na redução estão as chuvas na bacia de Piracicaba, que elevaram o nível dos rios que abastecem a região e diminuíram a dependência de Campinas do sistema. 

Pressão. Na Grande São Paulo, a Sabesp intensificou a redução da pressão e fez o fechamento manual de até 40% da rede, conforme o Estado revelou no início do mês, o que resultou em economia de 8,5 mil litros por segundo, mais do que o dobro dos 3,5 mil litros por segundo economizados pela população, segundo a empresa. 

Em depoimento na CPI da Sabesp na Câmara Municipal, o presidente da empresa, Jerson Kelman, admitiu que as manobras feitas na rede reduziram a pressão da água nas tubulações para apenas 1 metro de coluna d’água, bem abaixo do mínimo de 10 metros estabelecido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

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Segundo um dirigente da Sabesp, as práticas chegam a despressurizar completamente a rede em pontos altos, deixando famílias sem água e com risco de contaminação da água por infiltração do lençol freático. 

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