Blocos se multiplicam e viram 'moda'

Pelo menos 165 grupos de foliões se cadastraram na Prefeitura de SP neste ano; em 2013, o número de inscritos não passou de 60

PUBLICIDADE

Por Marina Azaredo
Atualização:

Atualizado às 20h28

PUBLICIDADE

. Quando criaram o bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, há quatro anos, o apresentador Alê Youssef, de 39, e o empresário Alexandre Natacci, de 45, esperavam reunir 200 amigos. Juntaram 3 mil. No ano passado, já eram 25 mil pessoas, segundo os organizadores. No último dia 2, o jornalista Rodrigo Bento esperava 4 mil pessoas para a segunda edição do seu bloco, o Pilantragi, na Pompeia. Apareceram 15 mil. O movimento já é considerado o ressurgimento do carnaval de rua de São Paulo.

"É uma explosão", diz Alberto Ikeda, professor do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pesquisador da cultura popular brasileira. "Nos anos 1970, no mesmo período em que as escolas de samba se fortaleceram, o carnaval de rua ficou meio esquecido. Há dez anos, começou esse movimento de volta, com alguns blocos alternativos. O carnaval é uma festa da qual as pessoas querem participar, e não apenas assistir."

Até as 18h30 de sexta-feira, 165 blocos e cordões carnavalescos tinham se cadastrado na Prefeitura (o prazo terminava às 23h59 do mesmo dia). No ano passado, de acordo com a Secretaria Municipal de Cultura (mais informações nesta página), saíram pelas ruas da capital entre 50 e 60 blocos.

Idealizador de um dos blocos mais antigos em atividade, a Banda Redonda, Carlos Costa, ou simplesmente Carlão, de 80 anos, acompanhou as mudanças pelas quais passou a folia de rua paulistana. "Bom mesmo era quando a gente fazia carnaval na Praça da Sé, nos anos 1940. Todos os bondes chegavam e saíam de lá, então era o lugar da cidade em que nos reuníamos. O grande momento era quando íamos para a frente da Rede Record (também na região central) ver os artistas que vinham do Rio."

Nas décadas seguintes, a folia de rua foi diminuindo, até que se tornou praticamente inexistente nos anos 1970. Foi em 1972 que Plínio Marcos, inspirado na Banda de Ipanema, fundou a Banda Bandalha. "Ele estava fazendo uma novela no Rio e os cariocas só falavam que São Paulo era o túmulo do samba, que cordão de paulista era cordão de isolamento e piadas desse tipo. Então, surgiu a Bandalha, que acabou durando só dois anos", lembra Carlão.

Para substituir a Bandalha, em 1974, Carlão criou a Redonda, que sai até hoje no centro da cidade, com concentração na frente do Teatro de Arena. "Na época, era tudo muito simples, não pensávamos em dinheiro."

Publicidade

Manifestações.

Hoje, segundo os especialistas, o modelo é mais empresarial. "Mas não deixa de ser um carnaval de participação", aponta Alberto Ikeda, que vê conexão com os atos de junho. "É o mesmo tipo de ocupação do espaço público."

"As pessoas querem uma transformação, estão cansadas de ficar dentro de casa", opina Rodrigo Bento, de 31 anos, idealizador do Pilantragi. "O trânsito para sair de São Paulo está demais, as praias estão cheias. O paulistano está começando a querer pular carnaval aqui mesmo", afirma Julio Pimenta, idealizador do novíssimo Cordão Carnavalesco Amigos Pratododia, que sai pela primeira vez neste ano, na Barra Funda.

"Estamos caminhando para o modelo do Rio, em que a Prefeitura centraliza o cadastramento dos blocos, o que considero muito positivo. Não é possível que São Paulo não tivesse um carnaval de rua decente", diz Alê Youssef./

COLABOROU BÁRBARA FERREIRA SANTOS

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.