SÃO PAULO - Para a publicitária Karinna Vasconcelos, de 37 anos, toda quarta-feira é de "cinzas". Desde abril do ano passado, logo após o expediente em uma agência de conteúdo, Karinna vai às terças-feiras a uma casa em Pinheiros, em São Paulo, rumo ao que ela considera "a melhor coisa que faz na vida": tocar na bateria do tradicional bloco de carnaval do Rio de Janeiro Bangalafumenga.
Assim como o Banga, como é conhecido pelos integrantes, pelo menos mais três blocos de carnaval do Rio estarão presentes nas ruas de São Paulo neste ano, e dois deles já estão formando bateria própria na cidade em oficinas de percussão, nas quais preparam batuqueiros para tocar nos eventos carnavalescos. "Sabemos que existe essa demanda do paulistano por carnaval e resolvemos trazer o Banga para cá", afirma Cesar Pacci, um fundadores da Oficina da Alegria, junto com Flavia Doria e Alan Edelstein. Eles são os responsáveis por realizar a oficina desde 2011 na cidade.
No primeiro ano, eram cerca de 60 alunos - agora, são 220. Os professores vêm do Rio toda semana para ensinar instrumentos musicais a todos os interessados, sem distinção de profissão, idade e experiência. "Muitas vezes, aquele é o primeiro contato da pessoa com a música; ela não tem a menor ideia do que está tocando, o que é muito legal", afirma Flavia. Karinna, por exemplo, começou a tocar rocar - instrumento parecido com um chocalho - há três anos, e hoje já é instrutora.
Oficina de percussão. Misturando vários instrumentos para criar do frevo ao pop rock, o Quizomba, que no Rio tem sede no Circo Voador, existe desde 2001, mas desembarcou em São Paulo em 2012, com a oficina de percussão. No carnaval do ano passado, cerca de 30 pessoas formaram a bateria do bloco do Acadêmicos do Baixo Augusta, que desfila pelo centro de São Paulo, acompanhadas de batuqueiros do Rio.
"Muita gente que vinha para o Rio pedia para levarmos a oficina a São Paulo. Então resolvemos fazer esse investimento para ver se haveria a demanda. E foi muito legal", comemora o diretor e maestro do grupo, André Schmidt. Hoje, o grupo é formado por 50 alunos que ensaiam na Pérola Negra, escola de samba na Vila Madalena.
A "invasão" dos blocos do Rio na capital paulista é uma tendência, afirma o professor da Unesp Alberto Ikeda, especialista em carnaval. "Existe público ávido por esse tipo de expressão que não está mais interessado só em carnavais confinados, e agora veem opções mais descontraídas. São Paulo é sempre e tão historicamente carrancuda, a terra do trabalho. Rio e Salvador também trabalham, mas se divertem mais", diz.
Na rua. O Cordão do Boitatá, pioneiro do carnaval de rua e desde 1997 presente no Rio, vai se apresentar pela primeira vez em São Paulo neste sábado, 15. E para quem pensa que a falta de praia e o excesso de construções não combinam com carnaval, o músico do bloco Kiko Horta contesta: "São Paulo tem uma coisa bacana para o tipo de bloco que a gente faz: tem muito prédio, que serve de apoio para o som acústico. Isso para trabalho de carnaval de rua é muito bom".
Pela segunda vez na cidade, mas estreando com desfile próprio, o Sargento Pimenta vai trazer no sábado que vem, dia 22, as músicas dos Beatles em ritmo de marchinha. No ano passado, o desfile na cidade foi em conjunto com o Bangalafumenga, na Vila Madalena. Felipe Reznik, diretor musical do grupo, afirma que o bloco fica feliz em poder contribuir para o renascimento do carnaval de rua da capital paulista. "A sensação que eu tenho é de que São Paulo está começando a ver o poder e o potencial que existe nessa grande festa brasileira", afirma.
OS BLOCOS DO RIO EM SP
Cordão do Boitatá
Local: Pirajá (Avenida Brigadeiro Faria Lima, 64)
Dia: 15 de fevereiro (sábado)
Horário: 13h
Bangalafumenga
Local: Av. Paulo VI (altura da Rua Lisboa) até Av. Sumaré
Dia: 22 de fevereiro (sábado)
Concentração: 10h / Desfile: 11h
Sargento Pimenta
Local: Av. Paulo VI (altura da Rua Lisboa) até Av. Sumaré
Dia: 22 de fevereiro (sábado)
Horário do desfile: 13h30
Quizomba + Acadêmicos do Baixo Augusta
Local: Esquina das Ruas Augusta e Marquês de Paranaguá, vai até a Praça Roosevelt
Dia: 23 de fevereiro (domingo)
Concentração: 14h / Desfile: 16h
