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Bateria de dependentes químicos desfila na região da cracolândia

Arteterapeuta do Programa Recomeço criou a Coração Valente após pegar um tamborim e passar tocando pelo meio do 'fluxo'

Por Paula Felix
Atualização:
Festa. Ensaio atrai movimentação de passistas e 'rainhas' Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

SÃO PAULO - Duas vezes por dia, em meio à aglomeração de usuários de crack conhecida como fluxo, o barulho de carroças e conversas é substituído pelo samba na cracolândia, região central paulistana. São os ensaios da bateria Coração Valente, formada por dependentes químicos, que vai fazer seu primeiro desfile pelas ruas da região hoje, a partir das 13 horas, na Rua Helvétia.

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Quando estão com tamborim, caixa e surdo nas mãos, os integrantes da bateria reúnem concentração, disciplina e alegria. Cada ensaio do grupo dura cerca de uma hora e quem participa não pode usar nenhuma substância entorpecente durante a atividade.

Frequentador da região há dez anos, Josué Viola, de 51 anos, já tinha experiência com o samba. “Eu toco surdo e estou achando ótimo, porque a gente vai largando as drogas. Todo ser humano tem recuperação e, mesmo dormindo na rua, sempre tem um sorriso em nós.”

Tempo e ritmo. O grupo, que às vezes chega a ter 40 ritmistas, é conduzido pelo arteterapeuta do Programa Recomeço, programa estadual de combate à dependência química, Anderson Rogério Santos, de 37 anos.

“Peguei um tamborim e passei tocando no fluxo. A música é tempo, ritmo e organização e eles aprendem isso.” De acordo com os organizadores do grupo, o nome da bateria, que vai acompanhar o Blocolândia, foi escolhido por meio de votação.

Basta o ensaio começar para ter início uma movimentação de rainhas de bateria e passistas. Até um casal de mestre-sala e porta-bandeira segurando um pavilhão imaginário aparece. Os ensaios são realizados há dez meses, como parte do projeto Cidadania Rodante nas Ruas da Luz, que também oferece oficinas culturais e artísticas. 

A ação é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania e dos coletivos Casa Rodante, Casadalapa e Projeto Oficinas. “É um trabalho que busca a visibilidade social. Tem a ver com ocupação da cidade e redução de danos”, diz um dos coordenadores do projeto, o psicólogo Cristiano Vianna. 

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