Ao menos três motivos pesaram na decisão tomada pelos vereadores de engavetar o projeto de lei que regulariza startups como a Uber na capital: a proximidade das eleições, o forte lobby dos taxistas e o possível afastamento da presidente Dilma Rousseff do cargo na semana que vem. Se separados, os três têm poder para influenciar o resultado das urnas em outubro, juntos podem representar um risco para o projeto de reeleição dos parlamentares.
Pela segunda vez nesta legislatura, a pressão externa definiu o placar de votação em plenário. Assim como ocorreu em 2014, quando integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) acamparam em frente à Câmara pela votação do Plano Diretor, os constantes protestos dos taxistas contra a liberação do serviço sagraram-se vitoriosos. Desta vez, o êxito foi acompanhado de dentro do plenário pelo presidente do Sindicato dos Taxistas de São Paulo, Natalício Bezerra, que sentava em uma das cadeiras dos vereadores.
A categoria tem hoje 38 mil representantes, que, somados a seus familiares e simpatizantes, representam ao menos 150 mil votos. Isso sem falar na poderosa propaganda boca a boca, feita diariamente nas viagens realizadas pela cidade nos carros brancos.
Com a base ainda mais enfraquecida pelo possível impeachment da presidente Dilma na semana que vem, Haddad não conseguiu nem sequer manter as 28 assinaturas obtidas na terça para colocar o projeto na pauta - o quórum caiu para 26 vereadores. Nesta quarta, representantes do PMDB até mudaram de lado no plenário - passaram a ocupar oficialmente o microfone da oposição.
Para completar, a cinco meses das eleições, as negociatas por cargos nas subprefeituras não têm o mesmo poder de barganha com os parlamentares. A conta agora não é mais por cargos, mas por palanque.