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Baladas ocupam a praça do Teatro Municipal

Aos 105 anos, a Praça Ramos começa a ser redescoberta e revisitada pelos paulistanos

Por Gabriel Justo
Atualização:

SÃO PAULO - O Salão dos Arcos do Teatro Municipal promete tornar-se o queridinho dos paulistanos no primeiro semestre do ano que vem. É lá, no porão quase desconhecido de um dos prédios históricos mais importantes de São Paulo, que Facundo Guerra, empresário experiente em renovar espaços esquecidos da cidade, deve abrir o Arcos, bar e restaurante.

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Ele servirá drinques e comidinhas em meio a apresentações de jazz e música clássica underground. O empreendimento deve consolidar um novo momento da Praça Ramos que, aos 105 anos, está mais uma vez sendo redescoberta pelos paulistanos.

“O Municipal foi o primeiro esforço cosmopolita de São Paulo, que queria deixar de ser aldeia para virar metrópole”, diz Facundo, responsável pelo Mirante Nove de Julho, que deu uma nova cara aos fundos do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na região da Avenida Paulista.

O Teatro foi inaugurado em 1911, juntamente com a praça, que na ocasião recebeu cerca de cem automóveis, registrando o primeiro congestionamento da cidade. Depois disso, a região teve seus altos e baixos, indo de centro comercial a, mais recentemente, um local deteriorado que se tornou a “casa” de muitos moradores de rua e dependentes químicos do centro.

Estranho e perfeito. Foi exatamente o abandono que chamou a atenção do casal de DJs Belalugosi, que em janeiro de 2015 organizou no chafariz da praça a primeira edição da festa techno Vampire Haus. “É um lugar fascinante no coração do centro, que cruza o caminho de muita gente. Só que poucos reparam”, diz a dupla, que organiza versões pagas da mesma festa para financiar as edições gratuitas, características mais atrativas depois da música e do próprio espaço em que ocorre. “Se tiver uma paga e uma grátis, eu prefiro ir onde é de graça”, afirma o publicitário Conrado Rodrigues, de 22 anos, que se sente “parte da cidade” toda vez que vai aos eventos na Praça Ramos.

Atualmente, cada festa por ali custa cerca de R$ 6 mil. Apesar de avalizar o evento, a Prefeitura fornece apenas a autorização de uso de solo e obriga os organizadores a alugar banheiros químicos e procurar a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana para garantir a preservação do espaço e a segurança da festa. “Sempre que vamos protocolar os documentos, nos perguntam: ‘o que vocês querem com aquele lugar? Só tem tranqueira ali!’”, conta a dupla de DJs, que insiste na praça justamente pela beleza da contradição.

É uma forma de introduzir as pessoas a uma São Paulo de verdade, com todos os encantamentos e problemáticas que isso envolve.” Quem também não se importou nem um pouco com as condições adversas da Praça Ramos foi o empresário Guga Trevisani, que em junho deste ano inaugurou o Air Rooftop, balada também dedicada à música eletrônica no topo do Shopping Light, do outro lado do Viaduto do Chá.

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“Sempre quisemos produzir festas em espaços diferentes, porque tudo em São Paulo é chato, com cara de formatura”, explica ele, que aposta na combinação de boas atrações com locais inusitados para bombar seus eventos. “A gestão Haddad foi mais precisa que as anteriores ao entender que a cidade é muito dura e esses espaços precisam girar. Eu gostaria que houvesse uns dez empreendimentos na Praça Ramos.”

Revitalização. Para o arquiteto Gilberto Belleza, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, qualquer atividade que permita ao paulistano usufruir mais do centro é positiva, mas precisa ser acompanhada de uma recuperação urbanística.

“A área central tem espaços que podem ser aproveitados não só com shows e festas, mas com atividades culturais em geral”, afirma. “A grande virtude da cidade é ser rica em acontecimentos, mas só o poder privado não os mantêm sozinho. O poder público precisa contribuir com mais iluminação e segurança, por exemplo.”

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