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Aula-show no curso de direito

Cembranelli e Podval se encontram em evento da FMU, onde estudaram; em discursos, muitos agradecimentos e pouco aprendizado para estudantes

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Por Redação
Atualização:

Dezenas de estudantes do curso de direito das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) deixaram de assistir aula ontem, achando que aprenderiam mais indo à homenagem que a entidade promoveu para os ex-alunos Francisco Cembranelli e Roberto Podval, eleitos, respectivamente, "o promotor do ano" e "o advogado do ano" por sua "brilhante atuação no caso Isabella". No auditório lotado, o terceiranista Leonardo Ligheti, de 21 anos, diz que foi para "ouvir dicas de dois profissionais bem colocados no mercado". "Mas não suporto direito penal. Vim porque eles descontam horas de aulas." Edwin Kuinzler, de 18, acha que "com certeza vamos saber mais sobre o caso Isabella". Com a aba do boné virada para trás, Luiz Felipe Cammarosano, de 19, afirma que quer ser promotor "como o Cembranelli". A homenagem começa com a projeção de um vídeo sobre a instituição. Dura nove minutos (o padrão de tempo de um comercial de TV é de 30 segundos). Lula aparece no vídeo elogiando o presidente da FMU, Edevaldo Alves da Silva. Vaia geral. O professor Pedro Franco de Campos sobe ao palco para dizer "uma palavra". Leva 12 minutos. O secretário geral Celso Hamilton de Camargo lê a "ata oficial da outorga do título aos homenageados". Cinco minutos. A platéia começa a ficar indócil. Enfim, chamam Podval (que levou a namorada, Ritienne, uma loira cerca de um palmo mais alta que ele: 1,72 metro, sem contar o salto de sete centímetros). O advogado fala por cerca de cinco minutos (mas não dá nenhuma "dica" aos estudantes). "Vim para cá pensando no que dizer. Não preparei nada (começa um improviso). Da última vez em que vi tanta gente reunida era para me bater (muitas palmas). Nunca recebi um prêmio tão bonito. Não posso falar muito para não chorar. Ainda vão dizer que a lágrima é falsa. Pior que eu choro até com anúncio de maionese na TV...""O Podval deveria cortar a gravata (cor de abóbora) e dar um retalhinho para cada um de nós, para dar sorte", diz Ângelo Bellizia, de 36 anos, aluno do primeiro semestre da faculdade. Cembranelli é chamado para falar. "Lindoo!", gritam. Diz que também não preparou nada. Fala menos que Podval. Sobre o caso dos Nardoni, diz apenas que já foi reconhecido na rua até em Nova York, de onde acaba de voltar, mas que "trocaria toda essa fama e voltaria aos plenários anonimamente se pudesse devolver Isabella a sua mãe". Logo encerra. A organização anuncia que agora os jornalistas farão perguntas aos homenageados. Como Podval diz mais uma vez que o júri do caso Isabella já estava decidido no início, alguém quer saber: "O que leva um advogado a pegar um caso perdido?" A platéia vaia. Podval, falante e agitado, balança a cabeça em todas as direções, enquanto busca uma resposta. "Acho inconcebível rejeitar um caso." Em seguida, conta que "Ana Carolina, mesmo condenada, disse que o mais importante foi ter se sentido defendida, digna, gente". A homenagem acabou. Um grupo de alunos se amassa para fazer fotos com os advogados e pedir autógrafos. "Tio, agora eu!", diz uma aluna com jeitão de Stephany, na direção de Podval. À saída, fila para assinar a folha de dispensa das aulas. A mensalidade ali é R$ 800.

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