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Após selfie e aftersex, internauta agora expõe estantes em aplicativos

Shelfie já soma mais de 45 mil postagens no mundo; para especialista, fotos de estantes ou objetos pessoais não deixam de ser uma forma de autoafirmação social

Por Laura Maia de Castro
Atualização:

SÃO PAULO - Se antes era preciso ir à casa de alguém para conferir o que havia na estante da sala ou do quarto, hoje, com apenas dois cliques, internautas compartilham a imagem com amigos e desconhecidos a todo instante. Depois do autorretrato chamado de selfie e da foto de casais após terem relações sexuais conhecida como "aftersex", a moda agora nas redes sociais é fotografar prateleiras com livros, filmes ou outros objetos pessoais.Já são mais de 45 mil fotos postadas por internautas de todo o mundo com a legenda #shelfie no Instagram. A palavra é um neologismo formado por shelf, que significa prateleira em inglês, com o sufixo ie - já conhecido pelos usuários das redes por causa da selfie.Sem saber da dimensão que a shelfie tinha tomado, o publicitário Fabio Rex, de 42 anos, que mora em São Paulo, entrou nessa onda e usou a identificação na legenda de uma foto publicada nesta semana. Mais de 120 amigos curtiram a imagem da prateleira de um móvel de sua sala, onde aparecem peças de letras que formam o seu sobrenome, junto com um bonequinho customizado por Rex, que também é ilustrador. Apesar de mais de uma centena de curtidas na imagem do Instagram, ninguém, segundo o publicitário, tinha visto o móvel com os objetos pessoalmente. "Trouxe essas letras de Paris há pouco tempo e tinha acabado de montá-las", explica Rex. Para ele, as fotos do tipo shelfie são mais particulares do que os autorretratos já comuns nas redes sociais. "A selfie seria o que você tem por fora e a shelfie, o que tem por dentro: o que você está lendo, o que você valoriza, seus objetos. Na minha opinião, é bem mais privada, porque o rosto está na rua o tempo todo, mas a sua prateleira, não", diz o publicitário.Zoom. Basta uma rápida busca nas redes para encontrar as mais diversas fotos com a mesma legenda. Enquanto alguns apostam em fotos aproximadas dos livros e de objetos, outros publicam imagens mais afastadas para valorizar a estante. É o caso do engenheiro português Miguel Rocha, de 36 anos, que mora há seis anos na Holanda e já usou a hashtag duas vezes. "Tinha acabado de arrumar a estante e tirei a foto para partilhar com alguns amigos a minha coleção de filmes e jogos", afirma. Para a coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), Rosa Maria Farah, fotos de estantes ou objetos pessoais não deixam de ser uma forma de autoafirmação social. "É uma forma menos explícita do que a selfie, mas, de certa maneira, também tem um conteúdo narcisista, de afirmação e busca de aceitação", diz Rosa.Segundo a especialista, o fenômeno da shelfie ainda não teve grande adesão no Brasil, mas não deve demorar para que a legenda se espalhe por aqui. "Os modismos na internet têm vida, adesão e divulgação muito rápidas", diz. A psicóloga explica as questões do mundo virtual como uma espécie de mundo lúdico do adulto e a adesão aos modismos como uma maneira de explorá-lo. No caso da shelfie, o compartilhamento da foto seria apenas uma outra maneira de se apresentar. "Não deixa de ser uma forma de apresentar aspectos do eu, algum tipo de característica pessoal e se expor. Não necessariamente no mau sentido, mas no sentido de apresentar ou revelar algum aspecto da própria pessoa."PARA LEMBRARSelfie continua 'bombando'. Tudo começou com a #selfie, termo usado para descrever fotos que as pessoas tiram de si mesmas com o celular. A palavra, assim como a prática, ganhou o mundo e foi escolhida como destaque do ano pelo dicionário Oxford, que desde agosto do ano passado incorporou o termo na versão online. Hoje, há quase 115 milhões de fotos identificadas por #selfie no Instagram.

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A prática do autorretrato com smartphone ganhou ainda mais repercussão quando o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tirou uma polêmica selfie com os primeiros-ministros do Reino Unido, David Cameron, e da Dinamarca, Helle Thorning-Schmidt, durante o funeral de Nelson Mandela, em dezembro.

Mas o estopim de popularidade desse novo retrato foi durante a cerimônia do Oscar, em março. A apresentadora Ellen DeGeneres orquestrou uma selfie que incluiu estrelas como Meryl Streep, Jennifer Lawrence e Bradley Cooper durante a cerimônia. A imagem, uma jogada de marketing, se tornou a mais compartilhada da história do Twitter.

De lá para cá, outras modas tomaram conta das redes como o #aftersex, identificação de um autorretrato feito pelos casais após a relação sexual. Com mais de 17 mil publicações com esse termo na legenda, o fenômeno foi responsável por um verdadeiro alvoroço nas redes sociais por dividir internautas favoráveis e contrários à nova moda.

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