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Após crise, programa de aids tem novo diretor

Antigo chefe do departamento foi exonerado há 3 semanas pelo ministro da Saúde após controvérsia da campanha 'sou feliz sendo prostituta'

Por Ligia Formenti e BRASÍLIA
Atualização:

O infectologista Fábio Mesquita será o novo diretor do Departamento de DST-Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. O médico, que hoje coordena o programa de aids da Organização Mundial de Saúde (OMS) no Vietnã, assume o programa em meio a uma crise, deflagrada no início do mês, com a divulgação de uma campanha de prevenção voltada para prostitutas.Uma das peças, como revelou o Estado, trazia um cartaz com os dizeres: "Sou feliz sendo prostituta". Embora elogiada por médicos especialistas no combate à aids e por integrantes de organizações não governamentais, a iniciativa provocou polêmica. Diante da divulgação, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, mandou retirar a campanha de circulação e exonerou o então diretor, Dirceu Greco, que saiu afirmando que o governo era conservador. Os assessores de Greco saíram em solidariedade. Ao longo das últimas três semanas, o programa, que no passado foi apontado como referência mundial, ficou sem comando.Além da mudança da cúpula do programa, o episódio provocou reação de movimentos sociais e representantes de programas estaduais e municipais de Saúde, que divulgaram cartas com críticas à forma como a prevenção da aids é feita no País.Recuos. A retirada da campanha voltada para prostitutas não é um episódio isolado. O governo, no último ano, já havia mandado suspender duas outras campanhas dirigidas para populações vulneráveis, com potencial polêmico.O primeiro recuo determinado por Padilha (cotado para disputar o governo paulista pelo PT no ano que vem) foi no carnaval do ano passado. Um filme com um casal jovem gay teve sua exibição restringida.Em março deste ano, o ministério também mandou recolher um material de prevenção à aids voltado para adolescentes. O kit, feito com o apoio das Organizações das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e para a aids (Unaids), foi lançado pelo antecessor de Padilha, José Gomes Temporão. A justificativa foi que o material não atendia ao mote das ações de prevenção voltadas para estudantes.     

 

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QUEM É: Fábio Mesquita é formado pela Universidade Estadual de Londrina e doutor em Saúde Pública pela USP. Nos anos 1980, ele coordenou o programa de aids em Santos, que se destacou por iniciativas como distribuição de seringas para usuários de drogas injetáveis. Depois, atuou no programa paulistano de aids, na gestão de Marta Suplicy (2001-2004).

 

CENÁRIO: experiência com grupos sociais pode contar a favor 

O médico Fábio Mesquita enfrentará uma série de desafios no cargo que passa a ocupar a partir de julho. O programa de aids do País - que já foi referência mundial - não tem mais as ONGs como braço direito para as ações de prevenção, adota estratégias tímidas de tratamento e sofreu forte redução do quadro de funcionários.

 

A epidemia de aids no Brasil está estabilizada, mas em patamares considerados altos. Por isso, avaliam analistas, as estratégias de prevenção estão descoladas da realidade. A ênfase é dada no público em geral, enquanto o ideal seria focar nos grupos mais vulneráveis, como gays, prostitutas e usuários de drogas. Amarrado a acordos feitos com grupos políticos religiosos, o governo teme qualquer estratégia considerada inovadora que possa resvalar na polêmica.

 

A experiência de Mesquita com grupos sociais da área pode contar a seu favor para uma reaproximação e, depois, adoção de ações mais ousadas.

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