Análise: 'Vias vão abrir espaço nas marginais para mais carros'

'Novamente, vamos investir no surrado modelo que prevê mais avenidas para mais carros'

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Por Creso de Franco Peixoto
Atualização:

Os Apoios Norte e Sul visam, na verdade, a recapacitar as vias expressas da Marginal do Tietê. Novamente, vamos investir no surrado modelo que prevê mais avenidas para mais carros. É preciso ressaltar, porém, que projetos de mobilidade devem assegurar o máximo de aproveitamento dos recursos aplicados, sob mínimo custo por passageiro ou por unidade de carga transportada. 

Analisando sob esse aspecto, até as linhas de metrô paulistanas, que custam milhões, podem ficar mais baratas do que avenidas de custos equivalentes, se comparada a quantidade de passageiro transportado.

Congestionamento na Marginal do Tietê Foto: Felipe Rau/Estadão

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Basta olharmos pelo retrovisor. A Avenida Pedroso de Morais é um exemplo de via de recapacitação, assim como foi a ampliação da Avenida Brigadeiro Faria Lima, que majorou a capacidade da Marginal do Pinheiros e acarretou forte impacto nos moradores desapropriados, além de considerável custo.

Quanto ao uso do solo urbano, levou anos para que a metamorfose de prédios parcialmente derrubados gerasse o panorama atual dos empreendimentos lindeiros.

As áreas pretendidas para ocupação do Arco Tietê estão praticamente na calha do rio. São estudadas para revitalização há, aproximadamente, duas décadas. Os projetos não saíram do papel em função do alto custo. Caso as novas vias sejam implantadas, haverá considerável impulso para a revitalização do entorno. Por outro lado, a capacidade extra destas "pontes de safena e mamária" às marginais pode estar sujeita à baixa capacidade regional de drenagem veicular e aí o congestionamento das vias expressas se estenderá bairro adentro.

Isso sem falar que estudos de implantação do Arco do Tietê anteriores à entrega do trecho norte do Rodoanel estão sujeitas à célere caducidade em função da forte demanda reprimida da região. 

Cardiologistas dependem do cateterismo para adotar a melhor solução a salvar vidas. Engenheiros, de dados confiáveis e liberdade de tomada de decisão para evitar panaceias que empurrem o problema para futuras gerações.

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