ANÁLISE: o mal-estar da democracia que temos no Brasil

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Por José Álvaro Moisés
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As vozes das ruas foram ouvidas e políticos e analistas se apressaram em celebrar os resultados como fortalecimento da democracia. Sim, a democracia está viva, mas um exame crítico das implicações dessa extraordinária experiência talvez aponte para questões que tocam na qualidade da democracia que temos. A presidente Dilma Rousseff percebeu a questão. Além de reconhecer a legitimidade das manifestações, chamou a atenção para o contraponto delas em relação ao que chamou de "instituições tradicionais". Ao dizer que entende o repúdio das ruas à corrupção, ao uso indevido dos recursos públicos e aos déficits das políticas de saúde, educação e transportes, apontou indiretamente para os responsáveis: o Legislativo e o próprio Executivo. E, nas manifestações, além de os partidos políticos terem sido duramente rechaçados, o alvo das invasões foram o Congresso, a Assembleia do Rio, a Prefeitura de São Paulo e o Palácio Bandeirantes. Terá sido isso um mero acaso ou um simbolismo preciso?Apesar do apoio majoritário ao regime democrático, todas as pesquisas de opinião mostram que existe um enorme mal-estar com as instituições de representação. As pessoas não se sentem objeto de atenção dessas instituições. Fosse diferente e as ruas não precisariam ser tomadas pelas multidões. Resta saber se, além da retórica sobre o triunfo da democracia, os líderes dos partidos e os chefes dos parlamentos se disporão a decifrar a crítica sobre a ausência de conexão entre representantes e representados. É porque temos democracia que as ruas estão dizendo que precisamos de mais participação na democracia. * JOSÉ ÁLVARO MOISÉS É DIRETOR DO NÚCLEO DE PESQUISA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DA USP

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