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Acessíveis, Pinacoteca e Museu do Futebol dão o bom exemplo

Já o Catavento deixa a desejar; especialista diz que vontade política e institucional e investimentos privados são fundamentais para ampliar acesso

Por Breno Pires e Danielle Villela
Atualização:

SÃO PAULO - A Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Museu do Futebol são os melhores exemplos em acessibilidade na capital. Não só pela estrutura física, mas por possuir materiais especiais e uma preocupação em capacitar a equipe para atendimento a deficientes.

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No projeto Deficiente Residente, do Museu do Futebol, dois deficientes frequentam o museu por três meses. A troca de experiências com os funcionários fornece subsídios para uma atualização contínua da apresentação do conteúdo.

Em cada um dos três anos de projeto até aqui, uma dupla tinha uma necessidade especial diferente: visual, intelectual e auditiva. A percepção deles baseia novas ações. Durante o "intercâmbio" de André Amêndola (autismo) e Mario Paulo (síndrome de Asperger), em 2011, foi criado um jogo educativo.

"Quando o Museu do Futebol foi criado, há quatro anos, uma das maiores dificuldades era preparar a equipe para atender o público. É daí que nasceu o projeto Deficiente Residente", disse a diretora de conteúdo do local, Clara Azevedo. Uma facilidade que o espaço ainda não oferece são os videoguias, vídeo em que uma pessoa fluente na língua brasileira de sinais (LIBRAS) faz uma descrição das obras.

VÍDEO - Museu do Futebol

A cultura pró-acessibilidade não vem do dia para a noite. O Museu do Futebol já foi concebido com essa diretriz, quando fundado, em 2008. Já a Pinacoteca começou a se preparar para acessibilidade em 2003, quando foi criado o Programa Educativo para Públicos Especiais (Pepe).

Museu de arte mais antigo de São Paulo, a Pinacoteca foi o que mais preencheu os quesitos de acessibilidade dentre os visitados. É o único que oferece aos deficientes auditivos um videoguia, com descrição de 17 pontos.

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Para os cegos, o que chama mais a atenção é a galeria tátil, em que os visitantes podem explorar 12 esculturas em bronze. O lado lúdico também é estimulado nas visitas, com atividades ligadas ao conteúdo trabalhado. Há também um audioguia (aparelho de audiodescrição).

Foi a galeria tátil que fisgou a deficiente intelectual Simone dos Santos, de 28 anos. Em visita à Pinacoteca com a Associação Comunitária Monte Azul, ela transparecia emoção. A pedagoga do grupo, Leidivânia da Matta, disse que Simone perdeu a visão há alguns anos e, desde então, vinha perdendo o interesse de acompanhar os passeios da associação. Mas naquela quarta-feira foi diferente.

"Quando eles disseram que tinham forma para atender a qualquer deficiência, Simone deu uma chance. E dá para ver como ela está feliz explorando as esculturas. Os educadores a trataram muito bem", afirmou Leidivânia, que marcou a visita com antecedência.

Dificuldade. Situação diferente foi vivida na visita da Associação Comunitária Monte Azul ao Catavento Cultural, onde não houve a atenção necessária a um grupo de deficientes intelectuais, segundo a pedagoga Leividânia da Matta.

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"A gente teve uma experiência horrível no Catavento. Muito movimento, apresentação muito rápida. Eles não têm estrutura adequada para atender a esse tipo de público", disse.

Em visita ao museu, a reportagem constatou que não há material especial para os deficientes auditivos e visuais, como os aparelhos audioguia e videoguia, tampouco descrição da exposição Braille. Além disso, não há educador especialista em LIBRAS.

O diretor educativo do Catavento, Osvaldo Guimarães, reconheceu que o museu não é plenamente acessível. "O Catavento é um museu jovem, de quatro anos, e foi concebido para atender o maior número possível de estudantes, principalmente, do ensino médio das escolas estaduais. Mas não conseguimos atender ainda a todas as necessidades especiais", disse. Ele afirmou que o Catavento estuda a criação de um guia de áudio para cegos, mas não deu prazo.

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Vontade. A consultora em acessibilidade em museus Amanda Tojal afirma que um aspecto decisivo para tornar os espaços mais acessíveis é a vontade institucional. Foi o que constatou durante os 10 anos em que coordenou o Programa Educativo para Públicos Especiais (Pepe), da Pinacoteca, de 2003 a 2012.

"É preciso haver vontade política e institucional. O governo, a instituição, a gerência e os funcionários têm que aceitar isso", afirma. Tojal aponta como exemplo o início do programa de acessibilidade da Pinacoteca. "Na Pinacoteca, o diretor na época, Marcelo Araújo (hoje secretário estadual da Cultura), acreditava na importância da acessibilidade na inclusão de todos os públicos", diz.

Ela ressalta também a importância de buscar investimentos da iniciativa privada. "Nós começamos um trabalho com apoio da iniciativa privada e, se não tivesse esse apoio, não teríamos conseguido", disse.

Ouça a entrevista com Amanda Tojal.

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