Ação da gestão Doria na Cracolândia contraria plano enviado ao MP
Documento do Redenção não faz menções a internações compulsórias, derrubada de imóveis ou intervenção da GCM
Por Fabiana Cambricoli , Fabio Leite e Luiz Fernando Toledo
Atualização:
SÃO PAULO - As ações realizadas pela gestão João Doria (PSDB) na Cracolândia nos últimos dias contrariam o projeto feito pela própria administração para combater a dependência química na região, o Redenção. A Prefeitura afirma, em nota, que o projeto “está sendo posto em prática de acordo com as novas circunstâncias”, referindo-se à operação policial feita domingo pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB).
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O documento mais recente do projeto, tido como a proposta final, foi apresentado ao Ministério Público Estadual (MPE) em 15 de maio, após a promotoria de Direitos Humanos ter instaurado um procedimento interno para acompanhar a política. No texto, obtido pelo Estado, não havia menção à realização de um “Dia D”, revista de moradores por guardas-civis, demolição de imóveis ou internações compulsórias de dependentes.
Ao contrário: no eixo Saúde, por exemplo, a gestão apresenta como objetivos “a redução do risco e da vulnerabilidade em saúde da população, salvaguardando a autonomia, o direito à saúde”. O documento diz que o cadastramento dos usuários seria feito “por intermédio de abordagem contínua, de caráter não impositivo”. Após a megaoperação de domingo, os dependentes se espalharam pela região e a Prefeitura enviou 598 agentes de assistência social para atendê-los. Na sexta-feira, 26, será instalado um Centro de Apoio Psicossocial no local.
Nos eixos de zeladoria e justiça, a Prefeitura afirmava que iria “realizar desapropriações e lacração” de imóveis irregulares, sem mencionar demolições. Após a megaoperação, a Prefeitura reafirmou a interdição de imóveis irregulares e admitiu erro na demolição de uma casa que estava ocupada.
Um dia após megaoperação na Cracolândia, usuários de droga seguem no centro de São Paulo
1 / 18Um dia após megaoperação na Cracolândia, usuários de droga seguem no centro de São Paulo
Cracolândia
Apósa megaoperação das Polícias Civil e Militar neste domingo, 21, o centro de São Paulo amanheceu com usuários de droga em ruas da região e do entorn... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Cracolândia
A reportagem doEstadoconstatou nesta segunda-feira que os usuários avançaram para outras vias fora do 'quadrilátero do crack'. Foto: Werther Santana/Estadão
Cracolândia
O chamado 'quadrilátero do crack' é formado por Alameda Dino Bueno, Rua Helvétia, Alameda Cleveland e Avenida Duque de Caxias. Na foto, o cruzamento d... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Cracolândia
O lixo que se acumulou após a megaoperação também continuava nas ruas da região nesta segunda-feira. Foto: Werther Santana/Estadão
Cracolândia
No domingo, um total de 900 policiais, entre civis e militares,realizaram uma das maiores operações na Cracolândia e na região contra o tráfico de dro... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Cracolândia
OEstadoflagrou usuários de droga na esquina da Avenida Duque de Caxias com a Rua Santa Ifigênia. Foto: Werther Santana/Estadão
Cracolândia
A polícia desmontou as 34 barracas da feira de drogas que funcionava na área e comercializava 19 quilos de crack por dia. Foto: Werther Santana/Estadão
Cracolândia
Na Rua Helvétia, moradores de rua e usuários de droga carregam seus colchões e outros pertences. Foto: Werther Santana/Estadão
Cracolândia
Segundo a polícia,foram presos 38 traficantes durante a megaoperação- entre eles estão bandidos que foram filmados segurando armas no entorno, nas últ... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Cracolândia
Vista geral do cruzamento da Rua Helvétia com a Alameda Dino Bueno, esquina que faz parte do 'fluxo', dentro do 'quadrilátero do crack'. Foto: Werther Santana/Estadão
Um dia após operação, Cracolândia tem fluxos 'paralelos'
A reportagem do Estado circulou por toda a manhã e início da tarde nas ruas do centro no entorno da Cracolândia e constatou que pequenos fluxos se mon... Foto: JF Diorio/EstadãoMais
Um dia após operação, Cracolândia tem fluxos 'paralelos'
Um dia após a operação do governo do Estado para prender traficantes na Cracolândia, na região central de São Paulo, o fluxo de usuários de crack e mo... Foto: JF Diorio/EstadãoMais
Cracolândia
Equipes da Prefeitura de São Paulo trabalham para limpar a área da Cracolândia. Foto: Werther Santana/Estadão
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Funcionário da Prefeitura limpa a Rua Helvétia. Foto: Werther Santana/Estadão
Cracolândia
As investigações que resultaram na megaoperação começaram a ser feitas pelo Departamento de Investigação Sobre Narcóticos (Denarc) em novembro, quando... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Um dia após operação, Cracolândia tem fluxos 'paralelos'
Um dia após a operação do governo do Estado para prender traficantes na Cracolândia, na região central de São Paulo, o fluxo de usuários de crack e mo... Foto: JF Diorio/EstadãoMais
Cracolândia
Investigadores entraram em hotéis e estabelecimentos comerciais à procura de traficantes, armas e drogas. Foto: Werther Santana/Estadão
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Vista geral da Alameda Dino Bueno,um dia depois da megaoperação das Polícias Civil e Militar. Foto: Werther Santana/Estadão
O projeto discutido com o MP também dizia que os GCMs seriam “encarregados pela segurança” das equipes de saúde e assistência social, mas eles acabaram revistando pessoas nas ruas – função da PM. Na quarta-feira, 24, a Prefeitura afirmou que a GCM segue o estatuto das Guardas Municipais.
O promotor Eduardo Valério, de Direitos Humanos, criticou o descumprimento do que havia sido planejado. “O que estava sendo discutido era uma operação paulatina e discreta, mas o que ocorreu foi completamente o contrário, dispersando o problema e tornando mais difícil a sua solução.”
Em março, a Prefeitura chegou a dizer aos promotores que a existência de um “Dia D” era um “mero boato”. A ex-secretária de Assistência Social Soninha Francine também disse que o projeto não começaria desta forma. “A primeira ação seria abrir dois espaços e oferecer assistência social 24 horas.”
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Prefeitura. No pedido de urgência feito à Justiça para poder fazer busca e apreensão de usuários de drogas da Cracolândia para avaliação e tratamento, a gestão João Doria (PSDB) afirma que os dependentes químicos que frequentam a região “vêm sendo cooptados por novos ‘fluxos’, nas ruas laterais da intervenção”, após a ação policial realizada no domingo, e estão “impossibilitados de se conduzir por vontade própria” a qualquer tipo de tratamento.
“Novos fluxos impedem aproximação assistencial, mesmo porque o domínio continua com os traficantes. Se antes a venda de drogas possuía um ponto fixo, agora as 'bocas de fumo' encontram-se flutuantes”, diz a gestão. Na quarta-feira, 24, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que o Estado fez “a sua parte” e criticou o governo federal. "Há omissão em relação ao tráfico.”