30,9% dos blocos em São Paulo desistem do carnaval de rua

Mudanças em trajetos, demora na contratação de serviços e até erros na divulgação da programação preocupam blocos

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Por Priscila Mengue
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SÃO PAULO - A quatro dias do início da programação oficial, o carnaval de rua da cidade de São Paulo vive uma atmosfera de incertezas. Mudanças em trajetos, demora na contratação de serviços e até erros na divulgação da programação preocupam blocos. Alterações frequentes são apontadas como uma das razões para a desistência do evento – dos desfiles cadastrados em outubro, 30,9% não vão mais participar.

Carnaval de rua de São Paulo terá 663 desfiles Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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O bloco Psytrance Somos Nozes, de música eletrônica, por exemplo, está no quarto trajeto em menos de dois meses. O endereço apontado na inscrição foi o mesmo do ano anterior, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em Pinheiros, na zona oeste, mas depois foi modificado para a Rua Laguna, na Chácara Santo Antônio, e a Avenida Roque Petroni Júnior, no Brooklin. Por fim, há duas semanas, voltou para Pinheiros, agora na Avenida Henrique Schaumann.

“Por causa dessas mudanças, a gente perdeu patrocínio. Isso causa insegurança até para as empresas, que querem entender onde o bloco vai circular, como pode expor seu produto”, diz Humberto Meratti, um dos fundadores do bloco, que estima gasto R$ 20 mil por causa das alterações. “Chega a ser frustrante. O carnaval é um dos eventos que mais gera receita para a cidade, e a cidade tem de ser nossa parceira.”

Outro caso foi o do Unidos do BPM, que teve o trajeto alongado sem a anuência do organizador, Bruno Matos. “Consegui resolver só depois de muita conversa e aparições pessoalmente na secretaria, porque os meus e-mails não tinham retorno”, explica. “A gente planeja, faz visita técnica no local. Não dá para simplesmente mudar.”

Apenas em janeiro, mais de cem blocos tiveram alterações ou complementações nos itinerários e nas datas de desfile publicados no Diário Oficial. A situação afetou até megablocos, como o da cantora Anitta e das bandas Nação Zumbi e BaianaSystem, que chegaram a ter o desfile revogado temporariamente.

As mudanças frequentes são uma das explicações apontadas por organizadores de blocos para a desistência recorde, de 30,9%. Dos 960 desfiles inscritos até outubro, 663 estão na programação divulgada no site da Prefeitura (que ficou ao menos dois dias no ar com desfiles e trajetos errados).

A situação chama a atenção por acontecer no momento em que o carnaval voltou para a Secretaria Municipal de Cultura – após dois anos na das Subprefeituras –, cujo titular é Alê Youssef, fundador de um dos maiores blocos da cidade, o Acadêmicos do Baixo Augusta. 

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No dia 6, os 16 integrantes da Comissão de Representantes de Blocos de Carnaval divulgaram uma carta em que pediam a própria extinção e diziam que eram tratados como “meros transmissores de recados”, em vez de participantes da organização, o que teria ocorrido nos dois anos anteriores.

Da mesma forma, o Fórum Aberto dos Blocos de Carnaval SP, que representa cerca de 300 agremiações, divulgou uma carta no dia 7 com críticas sobre suposta falta de diálogo e transparência da gestão municipal. Também reclama do inchaço da programação do centro, que terá 194 desfiles, o que causou reclamações de entidade do bairro.

Outra demanda é a de campanhas e ações contra discriminação nos desfiles, especialmente em relação a assédio e racismo.“ A única propaganda grande que a gente vê é que vai ser um megacarnaval. Não vejo um trabalho de prevenção de danos”, critica Marcos Paixão, fundador do Paixão Mangueirense.

Também causa preocupação a licitação dos banheiros químicos, cujo resultado sairá hoje e ainda poderá ser contestado por concorrentes. “O edital deveria estar pronto. Banheiro é saúde, higiene, não é brincadeira”, diz José Cury, um dos coordenadores do Fórum, membro da extinta comissão e fundador do Me Lembra que Eu Vou.

O resultado do pregão de balões de sinalização de pontos de saúde, alimentação, segurança, dispersão e concentração/encontro sairá no dia 17, após o desfile de 220 blocos.“Não é uma brincadeira. Cada bloco envolve uma malha de empregos. Está muito bem organizado narrativamente, mas não no serviço, está no sonho.”

O Estado questionou a Secretaria Municipal da Cultura sobre as críticas, mas não teve resposta. A programação oficial prevê 663 desfiles, o que representa um aumento de 19,2% em relação ao ano anterior.

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