1 em cada 4 famílias evita deixar o Cine Marrocos

Grupo promete resistir à reintegração de posse marcada para amanhã; moradores dizem não ter dinheiro para aluguel nem para pensão

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Por Fabio Leite
Atualização:
Despejo marcado. Muitos ainda se recusam a ir para os abrigos indicados pela Prefeitura Foto: ROBSON FERNANDJES/ESTADÃO

Cerca de um quarto das 300 famílias que ocupavam o prédio do antigo Cine Marrocos, no centro de São Paulo, não deve deixar o local apesar da reintegração de posse determinada pela Justiça. O edifício de 12 andares pertence à Prefeitura e deve ser desocupado amanhã em ação que terá apoio da Polícia Militar. 

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As 70 famílias que ainda estão no prédio invadido em 2013 dizem não ter para onde ir nem dinheiro para alugar um imóvel ou pagar pensão. Trinta e oito delas receberam o auxílio-aluguel da Prefeitura, no valor de R$ 400 por mês, mas não conseguiram sacar o dinheiro por causa da greve dos bancários.

“Está tudo fechado e o gerente não atende a gente. Com esse auxílio já é difícil alugar alguma coisa; sem esse dinheiro, não tenho para onde ir”, afirma José Carlos Bellucci, de 72 anos, que mora há três no local.

É também o caso de Ana Shelri, de 32 anos, que se mudou há um ano para o Cine Marrocos com seus três filhos após o marido ser demitido do emprego de garçom e o casal ficar sem dinheiro para pagar R$ 600 em uma pensão no Glicério, no centro da capital.

"Se tivessem dado um auxílio, pelo menos a gente tentava encontrar uma pensão. Estou desesperada. Vão tirar a gente daqui no sábado e não sei o que fazer com meus filhos”, conta. 

A reintegração foi determinada no fim de agosto pelo juiz Emílio Migliano Neto, da 7.ª Vara da Fazenda Pública da capital. A primeira ordem para desocupar o prédio, que deveria ter sido cumprida no começo do mês passado, foi suspensa a pedido da Prefeitura porque os ocupantes do edifício ainda não tinham assistência social. O prédio será reformado para abrigar a sede da Secretaria Municipal de Educação.

No local ainda há muitos idosos, mulheres e crianças brasileiros e estrangeiros. Segundo a Missão Paz, organização da Igreja Católica que mantém a Pastoral dos Migrantes, o prédio chegou a abrigar 253 imigrantes e refugiados de 25 nacionalidades que vieram para São Paulo nos últimos três anos. “Cheguei aqui há três meses e não sabia que ia ter de sair tão logo. Para mim não ofereceram nada porque não tenho documento brasileiro”, diz a peruana Cíntia Valencia, de 31 anos, que trabalhava como costureira no próprio edifício ocupado.

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Quem já saiu foi para casa de parentes, abrigos oferecidos pela Prefeitura, outras ocupações de prédios na região ou foi morar na rua, muitos temendo um confronto violento com a polícia na reintegração.

Até o mês passado, a liderança da ocupação era do Movimento Sem Teto de São Paulo (MSTS), cujos organizadores foram presos em uma operação contra o tráfico de drogas na Cracolândia. Cada família pagava entre R$ 200 e R$ 400 por mês, dependendo das instalações ocupadas, para custear as contas de água, luz e a limpeza do prédio.

Segundo o coordenador da Defesa Civil, Milton Persoli, o trabalho para uma desocupação amigável é feito há um ano pela Prefeitura e o auxílio-aluguel foi oferecido para famílias de vulnerabilidade social, conforme prevê a lei. “Todas as famílias estão sendo assistidas pela Prefeitura e nós já notificamos a juíza da ação sobre a dificuldade de sacar o auxílio-aluguel por causa da greve dos bancários. Vamos aguardar se a ação vai prosseguir ou não.”

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