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Top Five Parade - Desostentação. SP é incrível porque está sempre em mutação

Por Bruno Paes Manso
Atualização:
 Foto: Estadão

Acompanho o processo de popularização do funk em São Paulo desde 2008. Antes disso, até 2006 ou 2007, o ritmo estava fortemente vinculado aos morros do Rio de Janeiro e da Baixada Santista. A cena cultural das periferias de São Paulo tinha o estilo mais carrancudo e compromissado do hip-hop, que dominou corações e mentes dos jovens daqui ao longo dos anos 1990, quando os Racionais MCs explodiram com uma sequência inesquecível de clássicos. O tempo foi passando, havia uma transformação em curso no século que se iniciava, algo que ficou mais claro agora, visto em perspectiva. O funk ostentação chegava com apetite para dominar a cena.

ATÉ O FINAL DO TEXTO ELENCO MINHA PARADA DESOSTENTAÇÃO

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# 5 - BELEZA PURA - CAETANO VELOSO

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A partir dos anos 2000, as taxas de homicídio nos territórios violentos de São Paulo despencavam, ao mesmo tempo em que o consumo e a venda de drogas se propagavam pelas biqueiras. Essas mudanças se refletiram também na cena cultural das periferias, cada vez mais na vanguarda da cidade. O drama, a denúncia e a cara fechada dos rappers dariam lugar à celebração, às festas, ao exagero, à ostentação do funk paulistano.

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Os personagens das letras se vangloriam do que têm e do que consomem: óculos Juliet, uísque Red Label, vodka Absolut, energético Red Bull, com bolsos forrados de plaquês de 100, curtindo a vida em campos de golf, festejando em mansões onde chegam de helicópteros. No cotidiano da cidade, as baladas de funk são regadas a álcool, anfetamina, maconha, cocaína e principalmente lança perfume. Lembram muito o espírito das raves dos anos 1990, promovidas pela classe média em clubes e fazendas, movidas a ecstasy e maconha. Aliás, deixando a hipocrisia de lado, desde os anos 1960 a cena cultural jovem no mundo está fortemente ligada à droga da moda. O álcool se mantém sempre no topo da lista, não importa a época.

# 4 VOCÊ NÃO SABE O QUE PERDEU - CACHORRO GRANDE "Pra onde eu vou não precisa de dinheiro"

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Em São Paulo, depois do funk ostentação, parece ter havido uma diminuição as barreiras culturais entre as classes. Se o fosso econômico continua profundo, os valores nunca foram tão parecidos. Endorfina em excesso, suor, diversão em grupo, êxtases, sexo sem envolvimento emocional. O que mais alguém aos 20 e poucos anos pode esperar da vida? Felicidade é pertencer a essa tribo que caça baladas para viver em excesso, os tais "10 anos a 1000 versus 1000 anos a 10". "Viva o momento como se o mundo fosse acabar amanhã" é o lema de quem ostenta com roupas, carros, drogas e muito sexo.

O interessante é que, depois de transcender as periferias de São Paulo e conquistar o mercado, o funk ostentação parece ter entrado em viés de baixa. Foi vítima de seu próprio veneno. Quem descreve o fenômeno em detalhes, no site Farofafá, é Renato Barreiros, que eu conheço desde 2008. Nesse ano, ele foi subprefeito de Cidade Tiradentes, na zona leste da capital. Renato, jovem de classe média, abriu espaços públicos para a molecada da zona leste organizar festivais de funk no bairro. Cidade Tiradentes se tornou o principal celeiro de MCs da cena atual de funk ostentação. Renato continuou envolvido com a cultura quando deixou o cargo, tornando-se consultor do programa Esquenta, da Regina Casé, e dirigindo vídeos de funk.

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# 3 MONEY - PINK FLOYD

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

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No texto, ele explica como o sucesso dos MCs, cujos vídeos se popularizavam obtendo milhões de page views no YouTube, ocorria também em decorrência das oportunidades que ofereciam para mais gente ganhar dinheiro. Garotos da periferia divulgavam os novos trabalhos em seus próprios canais, ganhando acesso em suas páginas e tirando um troco da internet. Essa divulgação sem controle, democrática e pulverizada, foi vetada hoje por muitos MCs, que preferiram faturar sozinhos em seus próprios canais e concentrar os ganhos. O bloqueio tem diminuído a popularidade das canções, já que diminuiu a divulgação dos vídeos. Voltam a fazer sucesso os proibidões, que falam de sexo e crime nos Fluxos (pancadões) das ruas, roubando o público das casas noturnas. Raps que criticam a polícia, que chega de forma truculenta para encerrar as festas de funk, também estão em alta.

Como jornalista e pesquisador, fico sempre grato quando posso ver essas manifestações culturais de perto. Como são verdadeiras, dizem muito da sociedade em que vivemos. Acho tanto o hip-hop como o funk o máximo justamente por serem manifestações espontâneas e honestas. O que não significa que eu não tenho minhas preferências, inclusive, em relação a temas de letras. Desostentação é uma delas.

# 2 MANO NA PORTA DO BAR - RACIONAIS MCS

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Na minha dispensável opinião de coroa, São Paulo exige desprendimento para ser uma cidade suportável e sustentável. Mais praças, mais ruas, mais calçadas, mais transporte público, mais lugares e programas gratuitos. O convívio nesses lugares vai manter a cidade viva. Repare como temas musicais desvinculados do prazer imediato parecem tornar as canções mais longevas. Não é à toa que a desostentação já produziu alguns clássico. Não é moda passageira. O meu Top Five Desostentação transcorreu ao longo do texto. Abaixo meu primeiro lugar. Logo após, ainda há outros dois vídeos sobre o tema.

# 1 CAN´T BUY ME LOVE - BEATLES

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Esse último vídeo, a meu ver, parece um esporro sem noção do professor da 5ª série, que dá a bronca mas que não conhece seus alunos direito. O cantor também parece ostentar demais sua desostentação. O que o torna popular e com mais de 500 mil page views. Eu diria que não é a minha pegada

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Finalizo com o meu vídeo antiostentação favorito: o que mostra esse figura aqui embaixo chorando ao filmar um double raimbow na Califórnia, com mais de 40 milhões de visualizações.

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