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Paulistices, cultura geral e outras curiosidades

Paulistano conquista campeonato de trenós com cães - e muita neve

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Por Edison Veiga
Atualização:
Estudante do Morumbi vence competição sul-americana de sled dog em Ushuaia  Foto: Estadão

Julio Casares tem apenas 17 anos e foi o primeiro brasileiro a participar do campeonato sul-americano de trenós puxados por cães, realizado em Ushuaia, na Argentina. E, logo na estreia, fez com que a bandeira brasileira se tornasse o centro das atenções, colorindo de verde e amarelo o gélido cenário dominado pelo branco: o garoto levou a melhor, desbancando as 19 equipes concorrentes e se sagrando campeão do torneio.

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A competição da modalidade - chamada oficialmente de sled dog - ocorreu entre os dias 25 e 29 de junho e Julinho, como é conhecido, registrou o melhor tempo em todos os dias. O circuito percorrido media 21 quilômetros de extensão.

"A ideia é voltar a competir no ano que vem", antecipa. "Quero montar duas equipes. Eu conduzirei uma e um amigo, outra." Cada equipe é formada por seis ou sete cães - seis correm e pode haver um "na reserva".

Esse paulistano é apaixonado por cães de neve desde a infância. "Atualmente, tenho 25 cachorros de raças nórdicas", conta.

Incentivo. Filho de um publicitário e de uma advogada, há dois anos ele teve o incentivo da família para transformar o hobby em negócio. Montou um canil, que ele mesmo administra em Boituva, no interior paulista. "É algo que levo a sério. Pretendo trabalhar com isso pela vida toda", afirma Julinho, que mora no bairro do Morumbi, cursa o 3.º colegial na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e pretende, no ano que vem, iniciar uma graduação em Marketing.

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Em janeiro de 2011, em viagem de férias a Ushuaia, Julinho foi conhecer o centro invernal Llanos del Castor - famoso na região pelos cães treinados para puxar trenós. Conheceu então Alberto Cichero, administrador do local e envolvido com um projeto: resgatar a tradição do campeonato sul-americano de trenó, cuja última edição havia ocorrido em 2008, e voltar a fazer da competição um evento anual. "Fiquei surpreso ao saber que ele criava cães nórdicos no Brasil. Tratei então de convidá-lo para participar do nosso campeonato", relata Alberto.

De volta ao País, Julinho se viu com um problema: como treinar seus cães sem neve? "Bolamos um sistema em que eu ficaria numa espécie de triciclo. E os cães me puxariam assim", conta. "Aí fizemos um projeto desse triciclo e encomendamos para uma empresa."

Em março do ano passado, o garoto começou a treinar. No início, quinzenalmente. Depois a frequência foi aumentando, até chegar a uma maratona de exercícios diários.

O paulistano levou para a competição seis cães da raça malamute. "Cada um está avaliado em cerca de R$ 5 mil", estima. Thor e Coral foram comprados nos Estados Unidos - Coral é nascido no Alasca. Tyler é russo. Megan, Milley e Iniq são brasileiras, nascidas no canil de Julinho.

Preparação. Para se adaptarem ao frio da Terra do Fogo, os animais foram remetidos a Ushuaia dois meses antes da competição. "Nós os acondicionamos em caixas de largura suficiente para que conseguissem dar uma volta em pé", diz o garoto. "Chegando com antecedência, eles puderam desenvolver a pelagem e se adaptar à neve." O próprio Julinho esteve no local em maio para fazer um treinamento durante um fim de semana. Depois, chegou cerca de duas semanas antes da competição para praticar intensamente até o início da prova.

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Já na abertura do campeonato, no dia 25, o porte dos cães de Julinho chamava a atenção de concorrentes e torcedores que acompanhavam a competição no Llanos del Castor.

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"São animais que participam de exposições de beleza no Brasil", explica ele. "Meus amigos de São Paulo ficam intrigados quando sabem que eu pratico corrida de trenó, afinal é um esporte muito desconhecido no Brasil. Mas depois ficam curiosos e acham muito legal", comenta Julinho.

Sem neve. Em Ushuaia, seus concorrentes também ficaram espantados. "Todos achavam estranho, afinal era a primeira vez que tinha um brasileiro competindo", recorda-se. "Eles demonstraram especial curiosidade em saber como é que eu tinha feito para treinar sem neve."

"Espero que ele esteja abrindo a porta. Que a história dele ajude a deixar esse esporte mais conhecido no Brasil e, quem sabe, recebamos outros brasileiros nos próximos anos", diz Alberto, o organizador da competição. "O Brasil é um país tão querido e tão próximo e acredito que pode vislumbrar um futuro promissor na corrida de trenós."

De troféu na mão, Julinho compartilha esse otimismo. "Desejo que, na minha esteira, venham outros brasileiros", diz ele.

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Publicado originalmente na edição impressa do Estadão, dia 8 de julho de 2012

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