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Um papa que fala ao mundo todo - não só aos católicos -, quer uma Igreja mais acolhedora e não tem medo de mudanças. Em síntese, é assim que Francisco vem sendo visto por analistas do catolicismo, ao término de 2014 - primeiro ano civil completo de seu papado.
As transformações que o sumo pontífice buscava imprimir à Igreja, desde março de 2013, quando assumiu o trono de Pedro, se consolidaram como processos em 2014. "A toada continua. Portanto, ele mantém o ritmo daquilo a que se propôs quando (de cardeal argentino Jorge Bergoglio) se tornou Francisco", comenta o teólogo e filósofo Fernando Altemeyer, professor de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
"Só podemos fazer uma avaliação positiva e surpreendente do trabalho do Papa Francisco em seu primeiro ano de pontificado. Tudo o que ele mostrou com gestos proféticos e palavras desde seu aparecimento diante da Praça de São Pedro vem sendo realizado em todos os campos de sua atuação como chefe de Estado do Vaticano e como líder espiritual do mundo católico", completa o padre Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de Teologia da PUC. "Porém ele é um papa que fala ao mundo inteiro e não se restringe aos católicos apenas. Nessa linha a sua postura diante dos pobres e oprimidos tem sido uma marca muito presente."
Costa enumera questões como "a condenação e a preocupação com os problemas internos da Igreja em relação aos escândalos, que criam uma chaga que sangra impiedosamente, mostram sua coragem e seu sofrimento", "a condenação e o esforço para conter a sangria dos escândalos financeiros do Instituto para as Obras de Religião (o banco do Vaticano)" e a "sua visão de Igreja pobre com os pobre e seus apelos contra o carreirismo eclesiástico".
De acordo com a avaliação do diretor da Faculdade de Teologia, isto tem criado outra mentalidade na Igreja. "O ecumenismo e as relações inter-religiosas tiveram um grande salto de qualidade, com sua abertura de coração e visitas ao mundo oriental. Por fim, a busca de um tratamento pastoral para as questões que afligem a Igreja, como as novas concepções de família, mostram que o Papa Francisco é um pastor que cuida das ovelhas feridas com ternura", diz ainda. "Ele é um papa da paz. Desejo que consiga avançar e tenha tempo e apoio para aprofundar todas as reformas que iniciou em apenas um ano de pontificado."
Auge. A realização do sínodo extraordinário sobre a família, em outubro, foi considerado o momento mais importante do pontificado de Francisco até o momento. "Não houve retrocesso, entretanto, acabou não ocorrendo o avanço que se esperava. Pretendia-se um discurso mais generoso (aos homossexuais e aos divorciados)", lembra o teólogo Altemeyer. "Mas isto é porque ele quer o consenso, 'ou vamos todos juntos ou vamos discutir mais'. Não vai impor mudanças de cima para baixo."
"A postura dele é de acolhimento. Francisco mostra que o catolicismo precisa estar preparado para essas situações", afirma a antropóloga e historiadora Lidice Meyer Pinto Ribeiro, professora de Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie. "A Igreja não está acostumada a lidar com questões como o divórcio e a homossexualidade. E isso tem machucado e afastado muitas pessoas."
Vigário regional do Opus Dei no Brasil, o monsenhor Vicente Ancona Lopes lembrou que, no evento, Francisco "encorajou os bispos a falarem com plena liberdade sobre a crise e dificuldades da família monogâmica". "Como o papa enfatizou, não se colocaram em discussão as verdades doutrinais fundamentais do matrimônio, e sim a necessidade de uma abordagem pastoral mais incisiva e proativa para resgatar e reaproximar católicos que, ao não conseguirem levar adiante seu casamento, afastam-se da Igreja", pontua o sacerdote, que também frisa a facilidade como o sumo pontífice se comunica com os povos. "É admirável o carisma midiático e a simpatia que a figura do papa continua despertando também entre não católicos", elogia.
"Importante também a viagem à Terra Santa no sentido do apoio aos esforços do Estado de Israel pela paz na região", complementa Lopes. "Na viagem à Turquia foi veemente o apelo em defesa das minorias cristãs diante dos ataques de radicais islâmicos em vários países."
Politicamente, Francisco vem preparando terreno para prosseguir com as reformas que tem em mente dentro da Igreja. "Em fevereiro, ele tem a chance de eleger mais 14 cardeais. Isso propicia que ele vá alterando o quadro, ganhando um ventinho para respirar", explica Altemeyer. "O importante é que ele está dando um passo por vez, lentamente, porém seguro e firme e sem se desviar 1 milímetro da rota originalmente proposta."
O teólogo aposta em uma aproximação entre o Vaticano e as igrejas ortodoxas. "No fundo, ele pretende uma viagem a Moscou. E vai ser muito simbólica", arrisca Altemeyer. "Francisco está querendo fazer uma unidade gigante, o que seria realmente inédito."
A antropóloga e historiadora Lidice também lembrou da postura agressiva de Francisco no combate à pedofilia na Igreja. "As investigações estão mais profundas e ele demonstra ousadia de mexer no vespeiro", comenta ela, que avalia que o contexto contemporâneo das comunicações, com o fenômeno das redes sociais, tem ampliado o carisma natural de Francisco. "O que ele fala acaba refletindo muito mais nas pessoas do que gestos de papas anteriores muito populares, como o próprio João Paulo II", compara. "Ele usa palavras simples, se comunica com facilidade - mas tudo repercute muito mais por conta das mídias sociais".