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Paulistices, cultura geral e outras curiosidades

Barulhos e silêncios

<B>CRÔNICA</b>

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Por Edison Veiga
Atualização:

 Foto: Helvio Romero/ Estadão

São Paulo não tem hino oficial - apesar de previsto em lei, blá blá blá. Houve um tempo que este fato, cru e silencioso, ensimesmou-me. Busquei significados. Tentei metaforizar o não-hino no barulhar dos carros afoitos, nas buzinadinhas das motos serpenteantes, no ziguezaguear dos pedestres afobados, nos quero-queros e pombas e sabiás que cantam sem explicação. Não encontrei, não consegui. Fiquei apenas com o fato: São Paulo não tem hino oficial.

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Não me venha o solerte leitor com soluções extemporâneas. Não queira que 'Sampa' do Caetano, assim sem mais nem menos, por decreto ou desejo, se transforme em canção ungida para ocupar o dileto formalismo. Não ouse pedir então o 'Trem das Onze', que já venceu até certames na televisão e, por certo, deve ser a mesmo música que mais escancara as prioridades e os desculpares paulistanos.

Não me venha com a 'Ronda' do Vanzolini. Não traga à pauta qualquer Rita Lee, tampouco Tom Zé ou Osvaldinho da Cuíca, menos ainda um Raul Seixas em fim de carreira. Apegue-se ao fato: São Paulo não tem hino oficial. Decerto porque, em suma, acorde algum seria audível em um local com tanta poluição sonora.

Há um risco em atentar para tal triste fato, o da mudez diuturna da cidade barulhenta, o da falta de cidadania musical, o da escassez cultural materializada no fato insólito de que nem sequer o concurso previsto foi anunciado: o de que algum apressado legislador venha buscar ufanismos, tão sobrantes nos inexatos tempos de hoje, e ainda se pegue transformando a musiquinha do Senna em sacrossanto eleito hino para representar as acelerações e o futuro da cosmopolita cidade.

Risco posto, peço desculpas. E se é para lançar mão de uma música já consagrada, nada melhor do que a 'Sinfonia Paulistana' obra de 1974 de Billy Blanco (1924-2011).

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Vambora, vambora... Olha a hora!

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