COM CAIO DO VALLE
A Secretaria Estadual da Cultura publicou nesta quarta-feira, 14, uma resolução tombando o edifício onde ficavam os antigos Hotel Excelsior e Cine Ipiranga, situados na altura dos números 770 e 786 da Avenida Ipiranga, no centro da capital paulista. A Prefeitura planeja abrir ali um cinema de rua, projeto que começou a ser gestado em 2011. O prédio está fechado desde 2005 e o interior do imóvel está bem preservado.
O governo municipal está prestes a concluir a desapropriação do imóvel, que pertence à imobiliária Savoy, por R$ 5 milhões. De acordo com o texto do tombamento, a construção, cujo projeto é assinado pelo arquiteto Rino Levi (1901-1965), "é significativo exemplar da arquitetura moderna". O tombamento também tenta 'blindar' o prédio contra planos de investidores de tentar fazer um centro comercial no local.
Além disso, para a pasta estadual de Cultura "essa construção é resultado de criativa concepção que se caracteriza por, em terreno relativamente pequeno sobrepor em um mesmo prédio uma grande torre de hotéis e monumental sala de cinema, ambos representativos de programas inovadores e característicos de meados" do século passado.
A resolução informa que "a sala do cinema Ipiranga conserva-se em grande parte como em sua concepção original, incluídos detalhes de corrimão, luminárias, o que lhe confere importância dentro do conjunto, sendo recomendada a sua preservação integral".
Já o hotel sofreu "reformulação e adaptação, com renovação dos quartos e banheiros (que receberam materiais novos)". Contudo, "suas fachadas externas ainda assim mantêm presença marcante na paisagem, apresentando claramente suas características fundamentais de arranha-céu vinculado à arquitetura moderna".
O tombamento já havia sido autorizado em uma sessão de 25 de outubro de 2010 do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat).
HISTÓRIA
Inaugurado em 1943, na homônima avenida, no centro, com projeto do arquiteto Rino Levi (1901-1965), o Cine Ipiranga deve se tornar o segundo cinema público da capital. O outro é o Olido, na Avenida São João, também no centro. O Ipiranga foi declarado de utilidade pública pela Prefeitura em junho do ano passado.
O antigo Ipiranga reside na memória dos cinéfilos paulistanos ao lado de outras salas icônicas como o Cine Metro e o Cine Art Palácio. O empreendimento não se resumia ao cinema: contava também com um hotel de 22 andares, o Excelsior.
Assim como outras salas projetadas por Levi, o Cine Ipiranga tinha uma caprichosa parábola acústica e minucioso acabamento de iluminação. O fio condutor de sua arquitetura era presente em todos os elementos, como forros, guarda-copos, sala de espera e escadas. Nenhum filme é exibido no velho cinema desde fevereiro de 2005.

Ditadura. Outra resolução publicada nesta quarta-feira, no Diário Oficial do Estado, tomba as antigas instalações da Operação Bandeirante (Oban) e do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi), instrumentos de repressão da ditadura militar, na Rua Tutoia, 921, na Vila Mariana, na zona sul.
Segundo o texto, os edifícios ali situados "representam a institucionalização do terrorismo de Estado" e os "espaços ali remanescentes são o suporte físico à memória da repressão e da resistência".