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Política paulistana

Sem ingresso para a abertura da Copa, vereadores travam votação do Plano Diretor

Por Diego Zanchetta
Atualização:

Atualizada às 21h06

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A falta de ingressos para a abertura da Copa do Mundo para 40 dos 55 vereadores de São Paulo causou mal-estar suficiente para paralisar nesta terça-feira os trabalhos de cinco sessões extraordinárias e a votação definitiva do Plano Diretor na Câmara Municipal. A indignação da base governista teve início na noite de segunda-feira, logo após a vice-prefeita e coordenadora do Comitê Organizador da Copa, Nadia Campeão (PCdoB), enviar 18 ingressos - 14 para os líderes de bancada e 4 para o presidente da Casa, José Américo (PT).

Em solidariedade aos colegas sem ingresso, o presidente informou o governo nesta terça que não aceitaria nenhum bilhete de cortesia. "Os ingressos não vieram em número suficiente e nós os devolvemos. Não tem cabimento os líderes irem e seus liderados não irem", afirmou Américo.

Ele admitiu ter recebido queixas de vereadores. "Recebi reclamações. Muita reclamação. Mas ninguém condicionou a votação do Plano aos ingressos", despistou o presidente. Outros líderes negaram ter obstruído a votação da proposta por causa da falta dos bilhetes.

O dia todo, porém, foi marcado por reclamações indignadas de parlamentares e assessores sem ingresso pelos corredores do Palácio Anchieta. A votação do Plano Diretor deveria ter começado às 11 horas, mas não houve acordo durante quase oito horas entre as lideranças.

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"Acho que ela (Nadia) errou de Câmara, porque ela mandou só 18 ingressos. E aqui somos 55, será que ela não sabe? Nunca vi uma coisa dessas", disse Adilson Amadeu (PTB). "É uma medida que complica a situação na Casa, mas não tem problema, vamos mandar colocar um telão lá fora e assistir daqui mesmo, trabalhando pela cidade", afirmou o vereador.

Os parlamentares contam que o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, havia prometido à Presidência da Casa, no mês passado, enviar ingressos para todos os vereadores. Os parlamentares disseram que foram avisados no fim de maio que o colega Netinho de Paula, também do PCdoB, iria entregá-los pessoalmente. Havia uma espera ansiosa pela cortesia. Na segunda, porém, os ingressos chegaram em número reduzido e foram enviados em envelopes pela própria vice-prefeita aos líderes. Ao ser informado da quantidade de cortesias, Américo mandou devolvê-los.

Oficialmente, os vereadores disseram que não podem votar um Plano Diretor que "fica à mercê da vontade do senhor (Guilherme) Boulos, líder dos sem-teto", como argumentou o vereador Eduardo Tuma (PSDB). "Pelo menos deveriam dar a oportunidade de a gente comprar os ingressos", disse Goulart (PSD). Os vereadores reclamam que o Comitê Organizador da Copa teria 90 ingressos para serem distribuídos ao Legislativo paulistano e que teriam sido retidos por Nadia.

Procurada, Nadia não foi localizada. Em nota, o Comitê SP Copa, da Prefeitura, informou ter recusado a compra 1,2 mil ingressos prioritários e disse ter recebido 94 cortesias que estão sendo distribuídas de acordo com critérios de representatividade nas esferas do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.

Políticos influentes na Casa, como o ex-presidente Roberto Tripoli (PV) e os campeões de voto Milton Leite (DEM) e Goulart, ficaram sem ingressos e estavam indignados. Eles já foram atrás da vice-prefeita, mas ela "está incomunicável", segundo um assessor próximo. Muitas autoridades e funcionários de alto escalão não param de procurá-la atrás de ingressos, segundo o assessor.

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Defesa. Alguns vereadores tentaram, no início da noite, logo após encontro com o prefeito Fernando Haddad (PT) para discutir a votação do Plano Diretor, minimizar o mal-estar criado pela falta de ingressos. "É patético dizer que alguém não vai votar o Plano Diretor por falta de ingresso. Nem sabia que a Câmara tinha de receber ingresso. O que houve foi uma reunião com o prefeito para discutir detalhes do plano", disse Andrea Matarazzo (PSDB), ao lado do vereador Jair Tatto (PT). Logo após se reunirem com o prefeito, vereadores da base governista foram apresentar a Matarazzo a possibilidade de dividir do Plano Diretor da questão da Ocupação Copa do Povo.

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Outros vereadores como Marco Aurélio Cunha (PSD), Ricardo Young (PPS) e Ricardo Nunes (PMDB), líderes de suas bancadas, tentaram dizer que não foi a falta de ingressos que travou a votação. "A Fifa tem de reservar espaço para mais de 2 mil autoridades do mundo. É claro que não cabem todos os vereadores", disse Cunha, ex-diretor de futebol do São Paulo.

Impasse. Oficialmente, os vereadores dizem que a discórdia em relação à votação do Plano Diretor é a inclusão de uma emenda do governo que transforma o zoneamento do terreno de 150 mil metros quadrados onde está a ocupação Copa do Povo, em Itaquera, na zona leste, em zona especial de interesse social (Zeis). Isso permite a construção de 2 mil moradias por meio do programa Minha Casa Minha Vida.

Na segunda-feira, após acordo com o governo federal que garantiu a construção das moradias no terreno e mudanças no programa habitacional, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) anunciou trégua em atos contra a Copa do Mundo. O líder da entidade, Guilherme Boulos, disse que a mobilização seria apenas pela votação do Plano Diretor.

"O que foi decidido com o prefeito (Fernando Haddad), que vamos ver agora com o Boulos se é possível, é fazer a mudança de zoneamento da ocupação Copa do Povo em um projeto de lei separado do Plano Diretor. Se isso for aceito, o plano tem grandes chances de ser votado até semana que vem com 50 votos favoráveis", disse José Américo, presidente da Câmara.

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Ingresso para a abertura da Copa no Itaquerão: 40 dos 55 vereadores não foram convidados para o evento Foto: Estadão
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