PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Espaços públicos, caminhadas e urbanidade.

O vazio urbano que virou bosque

Por Mauro Calliari
Atualização:
 Foto: Estadão

Hoje nasceu um bosque em São Paulo.

PUBLICIDADE

Após a preparação da terra, moradores vieram e plantaram dezenas de espécies nativas, numa esquina próxima ao largo da Batata.

Nos próximos anos, se bem cuidadas, as 300 mudas de araucárias, embaúbas,figueirase tantas outras vão crescer e ocupar o vazio entre as ruas Pais Leme e Butantã.

O lugar era um daqueles tantos cantos que sobram na cidade. A Operação Urbana Faria Lima desapropriou casas, lojas, ampliou ruas e esse canto ficou funcionando como uma passagem sem graça para os pedestres.Tão sem graça e sem significado que não tem nem nome.

Publicidade

O vazio urbano em 2016. Foto: Google.

Urbanistas chama essas sobras de "vazios urbanos", áreas que sobraram após a urbanização da cidade - beiradas de trilhos de trem, baixios de viadutos, sem significado especial para a cidade e sem vivências afetivas.

O esqueleto do melancólico jardim vertical que existia no lugar Foto: Estadão

Nas paredes do larguinho ainda são visíveis os vestígios de um "jardim vertical", melancólicos canteirinhos de PET, com plantas mortas por falta de cuidado, mas com a devida placa anunciando os patrocinadores do insucesso. Estudos mostram que a parede verde é um paliativo pouco eficiente, caro e que requer cuidados eternos para se manter, enquanto que uma árvore, depois que cresce se transforma num poderoso sequestrador de carbono e umidificador de ar.

Ricardo Cardim e Nik Sabey, os autores do projeto. Foto: Estadão

Incomodados com o potencial não aproveitado do lugar, o botânico Ricardo Cardim, o paisagista Nik Sabey e o ativista Sergio Reis se reuniram e decidiram propor um bosque no lugar do vazio. Juntos, conseguiram que a prefeitura regional de Pinheiros aprovasse o plantio e foram atrás de mudas, terra, caçamba e até um caminhão de água. Sem patrocínio e sem dinheiro público.

Hoje, eles e mais de uma centena de pessoas foram lá plantar tudo isso.

 Foto: Estadão

Nik diz que as árvores vão crescer em tempos diferentes, num processo natural de seleção. O resultado deverá ser um pequeno bosque sombreado em poucos anos, que trará um respiro para as ruas áridas do entorno, cheias de ônibus, carros e lojas.

Publicidade

É interessante pensar que a Prefeitura acaba de anunciar o plantio de um milhão de árvores na cidade. Se forem plantadas com o mesmo cuidado que essas trezentas de hoje, e não em linhões de alta tensão ou em lugares inóspitos apenas para cumprir uma cota, podem tornar a cidade muito melhor. Mas é bom lembrar que o número de árvores tão grande precisa de centenas de projetos como o do bosque da Batata, com gente tão dedicada e interessada como esses cidadãos que hoje passaram a manhã de domingo plantando e pensando numa cidade que respira um ar um pouco melhor.

 Foto: Estadão

Talvez até ajudem aquele larguinho a ganhar um nome e a fazer parte da memória afetiva da cidade. Bem-vindo, Bosque da Batata.

 

Fotos: Mauro Calliari

 

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.