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Espaços públicos, caminhadas e urbanidade.

Museu do Ipiranga. A reforma de oito anos é um sintoma da desatenção com o patrimônio histórico de São Paulo.

Por Mauro Calliari
Atualização:

Museu do Ipiranga. Cerca de 1930  

Semana da pátria. Dia de sol no bairro do Ipiranga. Centenas de pessoas correm ou passeiam no Parque da Independência. Famílias percorrem as alamedas dos lindos jardins. Vendedores de água de coco estão postados na sombra com cadeirinhas.

Mas o Museu, que foi inaugurado em 1895, está fechado.

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Prevista para terminar em 2022, a reforma ainda nem começou. A reportagem da FSP de 1º de setembro,mostrou que a USP, responsável pela administração do museu desde 1963, usou esses quatro anos para garantir que o acervo não sofresse danos e para fazer um estudo preliminar do que será necessário reformar. É muito pouco para quatro anos.

Numa cidade que tem carência de referências históricas, é difícil entender por que um dos lugares que guarda uma parte da memória do país esteja sendo tocado com essa morosidade. É constrangedor saber que o projeto de revitalização apresentado pelo professor Nestor Goulart dos Reis Filho tenha sido engavetado sem maiores explicações e que agora se esteja pensando num concurso. O patrimônio histórico é uma área realmente complexa, mas não há razão para que um trabalho tão importante ande tão devagar.

É compreensível que não haja um grupo de manifestantescom uma faixa pedindo urgência nesses trabalhos. Diante das prioridades de saúde, educação, transporte e tudo o mais, é razoável imaginar que ninguém esteja disposto a perder muito tempo para reforçar a importância de um prédio público. Mas, além do potencial turístico desperdiçado, o patrimônio é parte da nossa identidade. A professora do Mackenzie Nadia Somekh, ex-diretora do DPH, o órgão municipal de patrimônio, por exemplo, disse em uma palestra duas semanas atrás a respeito das razões para uma sociedade se preocupar com seus prédios: "O Patrimônio é uma maneira de celebrar a nossa história".

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Assim, é constrangedor ver como estamos celebrando nossa história. Mais constrangedor ainda é encontrar, como encontrei hoje na visita ao local, uma mãe explicando para a filha que o museu estará fechado por um período que vai corresponder à maior parte de sua vida. Um casal de namorados estava indignado com os tapumes: "oito anos para uma reforma, como assim?".

Haverá argumentos técnicos e financeiros, claro. Mas o fato é que, sem nenhum senso de urgência, o Museu do Ipiranga vai estar fechado por pelo menos mais quatro anos, escondendo parte da nossa memória, mas expondo bastante bem a nossa identidade.

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