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Espaços públicos, caminhadas e urbanidade.

Da Praça da República à Place de la République

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Por Mauro Calliari
Atualização:
 

Semana passada, fui passear pelo centro de São Paulo com o Pierre-Alain Trévelo, autor do projeto da nova Place de la Republique, em Paris.

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A chuvinha virou tempestade e o centro foi ficando cada vez mais melancólico. Pessoas se acotovelando nas áreas secas, fileiras de colchões embaixo das marquises, o piso esburacado das pedras portuguesas soltas e escorregadias, a água encharcando os pés e a mente.

No meio disso tudo, Trévelo contou sobre o projeto da Place de la République. Coisa bem planejada e bem feita. Antes de fazer o concurso para escolher o escritório vencedor, a prefeitura parisiense ouviu as pessoas e montou um resumo de tudo o que foi dito nas audiências públicas.

© Air images / myluckypixel Foto: Estadão

Depois de escolhido o projeto vencedor, um ano e meio para planejar e um ano e meio para construir.

O detalhamento do projeto é tão grande que a obra anda rápida. Um exemplo: Treveló contou com entusiasmo sobre a decisão de fazer uma inclinação de 1% na praça, para garantir o escoamento da água sem atrapalhar a experiência de estar na praça.

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A praça ficou linda, com mais espaço para os pedestres e para a contemplação. O trânsito não piorou e o comércio ganhou calçadas maiores para seus clientes. A place de la Republique continua sendo o lugar de encontro político dos parisienses, mas agora também melhorou o encontro cotidiano.

Tropeçando nas nossas pedras soltas e na melancolia do centro paulistano, constatei que nós, brasileiros, não gostamos de esperar um ano e meio para ter um bom projeto.

Achamos que o bom é sair correndo e fazer alguma coisa logo.

Aí, a obra dura oito anos em vez de um ano, com muitas refações, e o resultado não é bom, nem ruim, muito pelo contrário. Como a praça Roosevelt, como o largo da Batata, em que materiais bons são trocados por materiais ruins, árvores são negligenciadas, e detalhes são ignorados.

Para combater a minha nostalgia, Trévelo foi achar em Flaubert algum consolo: "Para que uma coisa se torne interessante, basta olhar para ela por muito tempo".

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De fato, no nosso cotidiano, seremos capazes de ver coisas interessantes na vida que se desenvolve nos espaços públicos, nas pessoas que circulam, na virada cultural que acontece no centro, e na espontaneidade.

Mas não veria mal nenhum em procurar isso tudo em espaços mais bem cuidados e mais bem planejados.

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